"Heartache and reverie" é o título do novo EP de Jacob, todo instrumentalizado numa pegada R&B Gospel com flertes ao Folk Clássico. Trazendo seis faixas de sua autoria, com uma delas sendo sample de artistas de outra realidade, Jacob abre o disco com "Don't Even Ask For Permission", que serve como uma introdução que quase passa batida, precedendo a belíssima "By the Grace Of God", sobre a intolerância cristã em relação a descoberta individual que cada indivíduo possui. A letra desta faixa é forte e dura, contando uma história de relacionamento entre mãe e filho e como a religiosidade atrapalha a boa vivência em nome dos bons costumes. A repetição do título é clara ao relacionar o que é feito em nome do Deus cristão com as consequências cravadas na vida de Jacob. "That Breathless Sign" é angústia em sua forma mais literal de descrever. Uma faixa que coloca pra fora a falta de vontade de viver que Jacob possui dentro da narrativa e o clichê de enredos do tipo é reforçado aqui com aquele cansaço de tentar ser o que não é. Logo em seguida, a terapêutica "Started From the Bottom" já começa a tratar a saúde mental de Jacob mediante aos artefatos anteriores. Os ápices desta faixa encontram-se no looping gerado pelo início e pelo fim.; "Hey, Doctor" expressa a realidade de repetição de pessoas danificadas pelo trauma, ou seja, nunca é tarde para voltar a se cuidar. É uma faixa de alívio, porém pouco leve, ainda assim Jacob ainda ressoa em temores. A melhor faixa encontra-se no final da obra, chamada "Memories From the Vault". Faltando um pequeno alerta de gatilho, Jacob expõe momentos e memórias ásperas da sua juventude e leciona a perversidade religiosa, seja sexual ou psicologicamente. A faixa é puro desabafo, puro repúdio mascarado de metáforas bem colocadas. A quinta faixa do projeto esbanja maestria na forma de expressas um assunto delicado, já que nem sempre é preciso colocar todas as palavras ao pé da letra. O encerramento fica por conta de "The Ballad of the Empirical Self", e é um encerramento fraco perante as demais letras, mas há de se entender o seu posicionamento na tracklist. Jacob encerra seu ciclo de cura entendendo todas as indagações previstas no EP e agora segue sua caminhada em busca de uma vida leve e pura, sem preceitos. O eu-lírico pressiona seu voo e é lindo de ser ver tal atitude. Agora, analisando todas as seis faixas, exceto a intro que não conta-se, o última é a que menos se destaca, talvez por não ser tão grandiosa liricamente quanto as demais. O extended-play é produzido também por Jacob e é visualmente muito bonito. Adentrando tecnicamente no encarte, vemos a presença de cores que coergem a narrativa lírica do disco, mas algumas adições nas laterais não funcional, são traçados finos que não deveriam estar ali, são apenas um amontoado de molduras. A tipografia remete a algo medieval, com suas delicadas serifas e fontes por momentos tridimensionais, relembrando brasões e artifícios vintages. Num geral, o booklet faz jus a narrativa, mas não impressiona. Portanto, Jacob entrega mais um pedaço de sua história e compartilha, em detalhes poéticos, sua jornada para formação de si, como pessoa pensante e não alienada a pensamentos mortais, trazendo composições certeiras numa narrativa emocionante.