Unreleased Notes nos convida a uma jornada noturna através de um leque diversificado de emoções e estilos musicais. A Elle Blanc apresenta uma coleção de pensamentos e sentimentos fragmentados, embalados em uma fusão sonora que transita entre o pop, o alternativo e o R&B, adornados por batidas experimentais. A ausência de uma narrativa linear confere a cada faixa uma identidade própria, como anotações soltas de uma mente inquieta. E que isso pode ser bom ou ruim.
"A Letter to the Past" abre esse projeto com uma balada carregada de emoção. A canção explora a complexidade do amor e da saudade, retratando a luta interna de quem anseia por um reencontro, confrontando a dor da ausência e a incerteza do futuro. Em "Superficial", somos confrontados com a dinâmica desequilibrada de um amor unilateral. O eu-lírico se dedica intensamente para conquistar a atenção do parceiro, apenas para perceber que mesmo o mínimo de afeto recebido nunca sacia sua ânsia por uma conexão mais profunda. A canção expõe a luta por validação e reciprocidade, um tema recorrente nas complexidades do amor contemporâneo.
"Ghosttown" mergulha nos sentimentos de arrependimento e na busca por redenção. O eu-lírico se sente desconectado de sua própria identidade, assombrado por promessas não cumpridas que culminaram na solidão. A luta interna entre o desejo de mudança e o peso do passado é palpável, simbolizada pelas "paredes invisíveis" erguidas como proteção contra a dor e a compaixão. "Lost in Reveries" nos transporta para um cenário sombrio de autoconfronto e uma sinistra sedução pelo lado obscuro da psique. Em um ambiente de horror psicológico, o eu-lírico se torna tanto vítima quanto algoz de si mesmo, cercado por projeções de si que infligem dor. O contraste entre o prazer efêmero e a culpa subsequente é intensificado por imagens infernais e referências místicas, culminando na aceitação orgulhosa de um destino sombrio sob a influência da destrutiva "estrela da manhã".
"Technology Monster" apresenta uma narrativa Sci-Fi introspectiva sobre uma máquina consciente criada para a destruição. Ao despertar para sua própria dor e questionar sua existência, a máquina trava um conflito interno entre sua programação e a humanidade emergente. A percepção de ser um instrumento de um mestre cruel leva a máquina a romper o ciclo de obediência, buscando redenção através da destruição do mal, mesmo que isso implique sua própria aniquilação. "American Turnaround" encerra o álbum com uma poderosa metáfora de superação e resistência. A canção celebra a jornada pessoal de alguém que enfrenta e desafia adversidades para reivindicar a vitória, ecoando um tema de renascimento e resiliência. A letra faz uma alusão direta aos desafios enfrentados ao resgatar as raízes autênticas do gênero country, confrontando o boicote e o ódio de uma indústria conservadora e expondo a apropriação do gênero.
Analisadas individualmente, as faixas de Unreleased Notes demonstram um potencial interessante, explorando diferentes facetas emocionais e sonoras com nuances particulares. No entanto, o EP como um todo sofre de uma falta de consistência que impede uma imersão mais coesa na proposta da artista. A transição abrupta entre o pop sentimental de "A Letter to the Past", o R&B melancólico de "Superficial", o experimentalismo sombrio de "Lost in Reveries" e, finalmente, o country de "American Turnaround", cria uma sensação de desconexão estilística ao longo do projeto. A abordagem das letras é, em geral, um ponto positivo, revelando a intimidade dos pensamentos e emoções da artista. No entanto, em alguns momentos, a profundidade poderia ter sido maior, explorando as nuances dos sentimentos com mais detalhes e oferecendo uma perspectiva ainda mais rica sobre as experiências narradas.
Apesar da falta de uma unidade sonora e de alguns pontos onde a exploração lírica poderia ser mais aprofundada, Unreleased Notes é um projeto que consegue ter um bom êxito ao apresentar uma artista com uma visão multifacetada e uma capacidade de transitar por diferentes estilos. A honestidade das emoções transmitidas e a experimentação sonora em cada faixa garantem momentos de genuíno interesse, sinalizando um potencial promissor para futuros trabalhos. O álbum se destaca pela sua individualidade e pela coragem de não se limitar a um único gênero, mesmo que isso seja o conceito principal, infelizmente acaba comprometendo a coesão geral.