
85
Em seu segundo álbum de estúdio titulado \"An Unsense Moment\", Cammile retorna a indústria fonográfica com um estilo de projeto \"dois em um\", partindo pro sentido literal, dois álbuns porém com uma única retrospectiva. De um lado é vísivel reconhecer o aprofundamento do viver, enquanto a sua contraparte, narra sobre as particularidades da cantora, guiando de casos amorosos até a descoberta de sua transexualidade. Assim como a sua abordagem, a exploração de influências de gênero musical foram fluídas, a compositora conversou com estilos: Techno Industrial (subgênero do dance) onde incorpora estilos mais barulhentos e sombrios, uma pitada do clássico Indie-pop, e alguns desfruto do PC Music. Guiando-nos aos primeiros traços do projeto, em \"Look How Amazing!\" há grandes revelações da visão da artista em relação de suas vivências dentro da religiosidade, comentários sobre o patriarcado estabelecido e os contornos das propostas religiosas feitas são eminentes. A abordagem é interessante, entretanto, poderia ter sido mais único se a letrista explorasse um tom mais sarcástico para a obra, pois atribuiria um toque mais vívido e posturado para a canção, o uso de composições literais são ótimas em variadas músicas, só que nesta em específico agregaria bastante. Prosseguindo a análise, \"Space Soul\" já reflete uma proposta de angústia e atritos que se deparam com seu ser e alguns de seus caráteres, a música é um excelente retrato de canção eletrônica: repetitiva e envolvente. A maior vitória desta faixa foi-se o seu pré-refrão genial, no entanto, Cammile poderia ter explorado alguns dos detalhes da ideia que ela queria dialogar com o público, isso não leva \"Space Soul\" em ruínas, e sim detalhes que é preciso pontuar para melhorias futuras. Em contrapeso, \"The Evil Of Good\", colaboração da artista com os renomados cantores Kadu e Prayor, dialoga múltiplos aspectos do existencialismo, embora que há um plano de fundo atraente, a junção de todas estas abordagens não soa solidificada como um coletivo, e sim que atua de maneira individualista. Em palavras mais simplistas: Separadamente é algo agradável, só que ao mesclar soa defasado de alguma forma. Poderiam ter explicitado um pouco melhor o ponto em comum da melodia, para que ficasse agarrado todas estas propostas inseridas em uma só música.\"Incarnation\" espelha o ponderamento da sucessão de vida, mesmo que ela tenha um toque melancólico, também consegue ter um vislumbre positivista, acreditamos que esta faixa tenha sido uma \"pausa\" espetacular para a narrativa. Enquanto em \"We Can Only Accept\" uma cooperação com o renomado artista alternativo Marco, nesta faixa soa mais deslumbrante e polida em relação a confrontar os planejamentos da realidade. O como é explorado de maneira mais sutil a questão do \"É preciso somente viver a vida, para que ela de fato tenha sentido\" é muito bem sobreposto, e esta troca artística entre Marco e Cammile funcionou de maneira pontual, em todos os aspectos possíveis. Sucedendo de maneira estupenda, \"Sense\" é uma das faixas mais agridoces de \"A Unsense Moment\". A gratidão pelo brilho reluzente da maternidade presente na vida da letrista é aconchegante e aliviante, principalmente a ponte desta lírica que podemos destacar como um dos melhores versos de todo o CD, Cammile não peca em um momento sequer. Partindo para a interlúdio do projeto, \"A Half\" já nos traz uma dualidade, de que mesmo que tudo esteja passando por momentos luminosos, ainda há uma presença velada da perversidade. Embora que seja algo curto e passageiro, isso não significa que esta transição do material não tenha uma qualidade excêntrica. \"Someone Else\" é um protótipo da famigerada frase: \"Pérola do pop\", usufruída por apreciadores do gênero. Uma narrativa de amar alguém intensamente, mas a descoberta de que este indivíduo já há alguém que o complementa mesmo sendo algo usual na indústria, a compositora fez isso de maneira tão repleta de vividez que a execução da lírica seguiu de maneira fenomenal, sem sombras de dúvidas um respiro para o mercado pop, caso a artista consista em lança-la como algo oficial do projeto. Criando uma linhagem sucessiva, \"To have and to be had\" traz uma mesma repercussão da faixa anterior, todavia, a emotividade é transcrita em outro método, o vestimento da solidão e do desejo da reciprocidade é transparente nesta música, revelando igualmente ser uma das nossas prediletas do disco. \"Confidence\" trata sobre a crucialidade de compreender e abraçar as feridas, e que mesmo dolorosas, nós devemos retirar algum proveito destes aprendizados. A mensagem de auto-suficiência é uma boa resposta. Entretanto, faltou levemente algo que elevasse a música de maneira exponencial, digamos que seja algo morno de se digerir mas possivelmente é algo degustante ao olhar do público. E sem sombras de dúvidas, jamais poderíamos deixar de escapar um dos maiores atos musicais lírico para nós da Billboard, a canção \"Me\" para nós é facilmente atribuída como uma obra de arte NECESSÁRIA para o Famous. A profundeza com detalhamentos e intimação que Cammile nos atribui, o vasto enriquecimento do conhecer e do alinhamento de seu corpo e mente, é arrepiante e francamente, inestimável. Não há palavras ou expressividade que nos permite ditar a respeito desta lírica, apenas nossos agradecimentos para a artista em deixar em livre acesso algo que revela um processo tão doloroso, e que conseguiu encontrar um resultado tão majestoso para a artista, sem dúvidas, um dos maiores atos se não o maior da carreira de Cammile, simplesmente boquiabertos. Nós da Billboard já pedimos perdão se caso houver algum erro de expressividade em relação a esta música. E isso não apaga os holofotes de \"Inside Me\", que nos dà o privilégio do aprofundamento do estudo de si mesma em relação a sua transexualidade, com o toque de resgate de si em um período delicado da compositora. Encerrando o CD com chave de ouro, \"A Moment For Me\" concluí a trajetória do trabalho em uma leve conversa sobre barreira que nos impomos e como podemos contorna-las, ou até mesmo quebra-las para encontrar as nossas verdades no mundo. Após uma longa e inspiradora análise de \"An Unsense Moment\" o projeto pode ser descrito como uma faca de dois gumes. O \"Lado A\" que observa este lado mais filosófico, ele possui suas vantagens, entretanto, adquiriu bastante aberturas para progressões questionáveis de onde as faixas gostaria de induzir o ouvinte, algumas possuiam uma mensagem esclarecedora, só que houve momentos em que não estava tão visível seu objetivo. Enquanto o \"Lado B\" sem dúvidas é o maior deleite do disco, o sentimentalismo, a preocupação não de agradar o público-alvo e sim de satisfazer a si mesma, foi o que domou nossos ouvidos com mais atenciosidade. Enquanto a percepção estética do projeto, Alec Weaver não poupou seus esforços quando se retrata de analogias visual. A forte presença do modelo de PC Music, cujo uma estética com uma alta definição só que de um jeito mais particularizado, com uma entrega do Hyperpop, repleta de estruturas visuais Lofi e Bubblegum Pop, por ser intencionalmente chamativo não só a sua edição, mas as fotografias selecionadas e a tipografia que carrega em sua conjuntura. Por fim, Cammile entrega um projeto musical necessário para a indústria atual, um álbum que possui seus pontos obscuros mas que anseia gradativamente por um ponto positivista. NOTAS- Composição: 32/36 Criatividade 16/22 Coesão 16/20 Visual: 22/22

77
Sucedendo sua estréia com “Redemption”, Cammile, um dos destaques de sua época, retornou com seu mais novo álbum de estúdio, o “An Unsense Moment”, assim como seu antecessor, possui pontos a serem destacados, mas seu lançamento também marca uma nova visão da artista sobre si mesma e sobre sua vida não vista em produções anteriores. Dividido em dois atos, “An Unsense Moment” mostra-se um extremamente pessoal e profundo, entre próprias palavras da artista, muitas coisas aconteceram durante a criação do álbum, trazendo uma carga ainda maior para suas composições, principalmente em canções presentes no segundo ato do álbum, que também marca o momento mais íntimo do álbum. “Look How Amazing!” explora Cammile e sua relação com a religião, desde seu envolvimento até a quebra dessa, onde “o amor ao próximo vem em primeiro lugar, mas na realidade, a prática é pior.” Dentro de sua canção, a cantora trás momentos em que questiona a hipocrisia, e a crueldade que presenciava, ainda que tentassem escondê-la em sua religião. Em suas próximas canções, Cammile deixa vir à tona questões relativas a vida, a sua complexidade, ao seu propósito para ela, começando por “Space Soul”, canção que a cantora diz sentir-se perdida e incompreendida pelas pessoas ao seu redor, entre seus questionamentos sobre o universo e a busca desvendar essas tais “teorias” – menção que soa confusa na canção –, que parecem não acabar, mas que desistir não é uma opção. Em “The Evil Of Good”, Cammile se junta a Kadu e Prayor, para novamente refletirem, mas agora juntos, sobre como o universo pode ser astuto e perigoso para quem é o curioso o suficiente para procurar respostas que aparentemente não deveriam ser respondidas. Assim como “Space Soul”, apesar de trazer duas pessoas de peso, “The Evil Of Good”, soa perdida em certo ponto, destaque para o verso de Kadu, que se lido isoladamente, soa até como uma canção diferente, já Prayor em seu verso sustenta a narrativa, onde em: /“Toda a lógica do mundo, não faz sentido se escrita no papel, sendo imensamente sincero, espero que você não entenda [...] O sentido das coisas existe para não enlouquecermos, o sem sentido, faz total sentido”/. Continuando com seus questionamentos, em “Incarnation” Cammile lida com o questionamento: Como eu estarei em minha próxima encarnação? Enxergando um pouco de luz em todo as questões turvas até então, a cantora diz esperar que em sua próxima vida, ela evolua, e aprenda coisas que ela não pôde aprender ou não vai aprender nessa vida, mesmo que em sua ponte, ainda haja aquela pulga atrás da orelha sobre o quão bom ou ruim tudo poderá ser em algum outro plano. Em um pequeno regresso de narrativa, Cammile e Marco em “We Can Only Accept”, propõe-se a aceitar o mundo como ele é, que existem coisas nele que nunca serão desvendadas por ela e que prender-se a questionamentos incógnitos não levará a lugar algum – canção que em paralelo a “The Evil Of Good”, trazem mensagens semelhantes – e que a única solução é apenas viver a vida. Em “Sense”, como uma grande homenagem, Cammile enche seus versos de agradecimentos a sua mãe, por seus grandes momentos juntas e principalmente, o amor. /“Você me faz ter sentido, foi a primeira pessoa que sorriu para mim nessa vida [...] sempre estarei aqui, por ti”/. Em uma canção que mesmo em sua simplicidade, é capaz enche os olhos. Seguida de uma interlude – uma breve conversa sobre nem tudo parecer o que é – “someone else” quebra a experiência levando-nos até reflexões mais íntimas de Cammile, não sobre o universo, mas agora sobre sua própria vida, a canção gira em torno de uma relação, onde Cammile descobre que seu parceiro já possuía outra pessoa. /“Me apaixonei tão rápido antes mesmo de descobrir, que estou entregue a alguém que já tem outro alguém”/. Canta a dor de sentir-se trocada, e ter que abrir mão de algo que já estava intensamente envolvida. Dando continuidade a “someone else”, temos “have and to be had” que diretamente, conecta-se com a canção anterior, nos versos: /“Pois você me tem, mas eu não tenho você”/. Aqui marcando um ponto de separação, Cammile se vê sozinha, sendo antes ou depois de sua fatídica descoberta, sente a dor de amar tanto sem ser amada de volta. “confidence” é sobre aprender com a dor, usá-la como escada para evolução, com citações referentes a “someone else” provavelmente, Cammile mostra o ponto em que entende que amar só faz sentido sendo amado de volta: /“Se você quiser meu corpo, eu deixarei tê-lo, se você não quiser meu corpo, não estarei implorando”/. Canta no refrão, entre versos que giram entre a dor e a destreza. Em suas próximas canções, Cammile fala sobre a descoberta de sua transexualidade de forma quase imersiva, entre a dor de entender seu próprio corpo e mente em “me.” e a conversa consigo mesma em “inside me.” Cammile trás significado ao álbum, e faz uma reflexão sobre sua vida que parecem saltar aos olhos quando lido: /“Por favor olhe mais fundo, eu estou aqui e quero que você me conheça”/ Cammile soube transformar um momento tão delicado em algo que provavelmente, está entre seus maiores atos. Finalizando com “a moment for me.”, vemos aqui mais uma canção forte, em que Cammile continua com suas reflexões, mas agora já mais esclarecida e feliz, depois de lutas e mais lutas para compreender o mundo, e principalmente, a si mesma, ela canta repetidamente: /“Eu precisava de um momento só para mim”/ “An Unsense Moment” marca um ponto de partida curioso e importante na vida de Cammile, seu visual é esplêndido, suas inspirações no HyperPop/Pc Music, com a psicodelia e a identidade única que trás em seus elementos que parecem querer saltar a tela, sua junção a Alec Weaver nesse projeto foi certeira. A divisão do álbum em dois lados, na teoria parece fazer sentido, mas na prática, torna a experiência um pouco confusa, além de existirem canções que parecem fazer mais sentido no lado B, do que no Lado A, como por exemplo, Sense. “Space Soul” e “The Evil Of Good”, são canções com ideias complexas, mas com letras que não possuem o mesmo peso, tornando-as complicadas e superficiais por não existirem mais elementos para “dissecá-las”, que é o caso de Space Soul, e como a já citada “The Evil Of Good”, que seu primeiro verso parece sequer fazer parte da canção, se lido isoladamente. Entre as canções do segundo lado, “someone else.” e ”to have and to be had.”, mesmo que propositalmente complementares, assemelham-se em alguns pontos, fazendo-as perderem a força narrativa, além também de “The Evil Of Good” e “We Can Only Accept”, que trazem ideias que se confrontadas, se assemelham. Cammile conseguiu elevar o álbum em um outro nível em seu segundo ato, mesmo que com as ressalvas, mostra evolução se comparado ao seu antecessor, “An Unsense Moment”, é um bom álbum, que talvez seria muito melhor aproveitado em um Extended Play, ou até mesmo se Cammile tivesse tentado limitar suas ideias, e não ter tentado ir tão longe com poucas palavras. VISUAL: 14 CRIATIVIDADE: 21 COESÃO: 14 COMPOSIÇÃO: 28