Após 3 anos na indústria musical, a ucraniana Moni lança seu tão aguardado debut álbum. “JESUS IS COMING” é um álbum pessoal, que conta problemas familiares vividos pela artista, destacando o seu relacionamento conturbado com o seu pai, um pastor presbiteriano, e como isso afetou a relação com sua crença. Musicalmente falando o trabalho passeia entre o Soul e o Blue com elementos do Rock africano e o Reggae.
A primeira faixa do álbum, “GOD”, traz toda a essência do conceito do álbum. Com uma lírica bem executada, forte e sincera. A artista faz uma analogia entre Deus e seu pai, onde canta como essa relação problemática com o pai fez ela se afastar da sua crença no criador. Uma ótima escolha da artista para apresentar-nos seu projeto
“Amazing Grace” com uma lírica crua e vulnerável, o eu-lírico canta sobre uma relação tóxica, que supúnhamos que seja a do seu pai, e como foi o momento em que pode se libertar, assim sentindo que alcançou uma graça.
A terceira faixa do álbum leva o nome do pai da artista, “Jason’s Weep”. Com uma introdução falada, claramente referenciando discursos do pai de Moni no púlpito em suas pregações conservadoras, a faixa começa. Em seus versos, “Jason’s Weep”, parece completar a faixa que a antecedeu, em total rebelião ao que seu pai e ao aue sua doutrina tentaram impor a artista, ela canta em forma de protesto, onde no refrão pede para que seu pai não chore pelas suas escolhas.
“Miseducation” parece completar as duas faixas antecessoras, abordando como seu comportamento e sua personalidade é um quanto polêmica para uma garota criada dentro da igreja, e como isso afeta a relação dela com seu pai e sua fé. Nesta canção, a ucraniana utiliza vozes de jornalistas que fizeram duras críticas ao seu comportamento, e isso foi inteligente e deixou a canção mais interessante.
A quinta canção é “Church Girl”, aqui Moni nos entrega uma letra simples e direta, evidenciando que a garota rebelde de hoje é consequência da garota reprimida pela igreja. Aqui vemos uma canção onde a artista mostra uma personalidade forte, onde se encontra e percebe que muitas outras garotas da igreja se identificam com sua história e querem também se libertarem.
A próxima faixa é a primeira colaboração da compilação de 11 canções, a artista convida Vito Adu e Lee para cantarem versos mais agressivos que as canções anteriores. Em “Jasmine” os três artistas entregam versos que se encaixam e entregam uma canção feroz. O refrão é o ponto alto da faixa, com metáforas que demonstra que tudo que o pai pregava sobre inferno e diabo era o que ela vivia diariamente ao lado de seu genitor.
Logo em seguida temos “Soul”, mas uma colaboração que dessa vez conta com nomes da nova geração da indústria musical, Danny e Petter. A canção traz toda a dor causada até os dias atuais em decorrência aos traumas sofridos pelo período vividos pelo eu-lírico com seu pai. Mesmo, Moni deixando tudo para trás e tentando se distanciar de tudo vivido e da presença de seu pai, ela foi marcada por muitas coisas que a acompanha até hoje, ainda deixando feridas abertas e que insiste em não cicatrizar. Uma canção que podemos enxerga toda vulnerabilidade da artista, os feats acrescentaram a canção com versos coesos e sentimentais, mas essa faixa poderia ser muito mais poderosa se fosse cantada por Moni entoando toda seu sentimento.
A oitava canção é “Deal”, Moni Nessa canção tem uma lírica mais agressiva, assim como em “Jasmine”. A canção fala sobre a hipocrisia do seu pai em querer pregar a bondade e o amor de Deus, sendo que ele nunca viveu isso de verdade e afirma que não o perdoará pelos danos causados. O refrão nessa canção é escrito com maestria, a artista faz uma relação entre Deus e ela, ressaltando ao seu pai que não é o criador, ou seja Deus, então não poderá perdoa-lo.
“Till’ The End” é a próxima canção do projeto, encontramos a melhor faixa até aqui. Aqui o eu-lírico demonstra que mesmo cheia de cicatrizes, dores e uma juventude perdida, ela tem coragem e força de vontade de viver intensamente, agora sendo ela mesma, sem medo do que seu pai e sua crença pensará e do que seu pai sentirá por isso. Agora ela vive um novo evangelho, e esse a ensina a ser feliz sendo ela mesma. A canção tem uma lírica fantástica e com uma forma expressiva assertiva, nos fazendo entender e apoiá-la na sua decisão.
“Pray” é a penúltima faixa do projeto, com a chegada dela sucedendo “TTE” podemos afirmar que as últimas canções do álbuns são as mais fortes e de certa forma as melhores do complicado. Em “Pray”, a ucraniana nos entrega uma letra sensível e dolorosa, onde ela canta sobre a grande falta que sente da sua mãe, que se foi precocemente quando a artista tinha apenas 7 anos. Mesmo com uma letra sem muitas metáforas e curtas, a canção nos entrega uma verdade imensa e expressada de uma forma linda e delicada.
“Apostasy” é a escolha da Moni para encerrar seu primeiro álbum, uma escolha inteligente, já o nome da canção significa abandono de fé é isso faz todo sentido se formos analisar o conceito criado para esse projeto e o que ele nos conta. Para contar sobre o desfecho dessa sua caminhada em relação ao seu pai e sua fé, a artista convida o novato Donatello. A canção usa de metáforas para explicar que abandonar a fé e religião estão totalmente ligados a abandonar seu pai e em não querer perdoa-lo. Donatello entrega a melhor ponte do álbum, o que não é de se surpreender porque o novato é um dos melhores compositores da sua geração, fazendo a canção se tornar ainda mais grandiosa. “Apostasy” cumpre com seu papel de fechar o álbum em alta qualidade e também cumpre o papel em fechar de forma correta a linha do tempo em questão da ideia do album.
A produção visual foi assinada por Annagram, que também é co-compositora na maioria das faixas do álbum. Não é uma produção inovadora ou que atinja o excepcional, Mas bem feito e consegue alcançar o objetivo de transmitir a essência do conceito.
“JESUS IS COMING” é um ótimo álbum debut, nele Moni com a ajuda de Annagram traz de forma bem colocada em sua lírica a história prometida no conceito. Podemos ver uma Moni madura e com um potencial enorme. Tendo a coragem de compartilhar suas feridas e toda sua vulnerabilidade com o publico e seus fãs, nos fazendo conhecê-la de uma forma que não tivemos a possibilidade antes.
Faixas destaques: Till’ The End”, “Pray” e “Apostasy”