O tão aguardado debut do cantor ZANE com seu álbum "AUTOGNOSE" finalmente chegou após anos de expectativa. ZANE descreve o processo de criação do álbum como complexo, inicialmente planejando um retorno com um novo EP, mas acabou encontrando um disco completo e pronto para ser compartilhado com o mundo. Este álbum é uma jornada em direção a um novo caminho, influenciado por suas amizades, família, terapias e até mesmo pelo tempo. A faixa introdutória, "Da Língua Até Minhas Vísceras", apresenta um conceito profundo e inexplorado, refletindo sobre a percepção que os outros têm de nós, contrastando com nossa verdadeira essência. É uma abertura impressionante e bem escrita. Em seguida, "Da Língua Até Minhas Vísceras" pode ser interpretada como uma faixa romântica à primeira vista, mas vai além, explorando os desejos e vontades do eu-lírico de forma objetiva e direta. "Sobriedade" pode parecer uma reflexão de um romântico incorrigível resistente às mudanças da nova geração, mas o eu-lírico expressa sua perspectiva, mesmo que egoísta em alguns momentos. "Mal do Século" deixa uma busca pendente sobre a autopercepção do eu-lírico, com versos que podem parecer confusos, dificultando a compreensão de seu objetivo. O grande destaque do album fica com "Ave, Decepção", o que pode ser um retrato sobre impulsões quando você não está preparado, o eu-lírico mostra que as vezes não vale a pena agir de sem estar preparado, independente do que seja. A seguinte faixa, "Vênus Ambulante", com participação da cantora ZOE, é uma canção submersa ao mundo da astrologia, mesmo que o cantor diz que não sabe muito sobre, isso ressoa na letra, que parece apenas jogadas de palavras sobre signos, o que se designaria como senso comum do que é a astrologia, sem um caminho a ser trilhado. O single "Palanque", com participação do Alex Flaming, aborda sobre o merecimento de estar presente em lugares, espaços, na vida de outras pessoas ou em geral; Apesar do conceito muito interessante, a canção é repetitiva e os versos não transparece com muito detalhe sobre o conceito, que as vezes soam como ácidos que uma reflexão. Em um jogo melodramático, "Gênio Maligno" é como um julgamento olhando no espelho, onde o eu-lírico se põe no alvo sobre tudo que acontece, tendo um refrão muito cativante. Em uma mudança conceitual bem relevante, ZANE traz uma ousadia em "O Diabo Fala Em Detalhes" e algo que muitos cantores tem medo de falar: erros, principalmente especificamente falando; Aqui, o cantor fala sobre coisas que já fez de errado em ligação à um contexto religioso, com teor irônico, mas muito bem trabalhado. O disco finaliza com a faixa "Contanto Que Tenha Roque Enrow" e não poderia ser outra, a canção resume toda a experiência do album, mas aqui há uma reviravolta de superação, onde o eu-lírico de agarra no seu Rock n' Roll preferido em torno disto. O disco foi produzido pelos talentosos Outtathisworld e Noan Ray, traz um visual psicodélico, mas não poluído, com encarte muito bem feitos, apesar de não traduzir tanto o que a lírica explora. Por fim, "AUTOGNOSE" é descrito como uma experiência de autoconhecimento, autodescobrimento, assim como uma aprendizagem pra viver consigo mesmo e com a vida em torno. No entanto, as canções, em sua metade, ainda enfatizam essa falta de autoconhecimento, de aprendizagem, até, porque, ZANE soa ainda confuso, perdido e ainda sem saber respostas sobre muitas coisas; A sensação é que ele ainda está no meio do caminho de tudo isto, por mais que pense que já tenha superado. As canções são melodramáticas e, algumas vezes, com conceito muito bem polido, mas que não refletem na lírica, que aponta pra outra lado. No entanto, em sua outra metade, é possível perceber um amadurecimento em sua jornada, uma reviravolta, como se tinha como objetivo. Liricamente é cativante a forma de escrita de ZANE, seu talento é visível em todas as faixas, seu grande empecilho é conseguir entender que "aquilo que estou escrevendo é realmente aquilo que eu penso que estou passando?". Todavia, "AUTOGNOSE" é uma proeza e poder visualizar finalmente um álbum de um cantor tão prestigiado é artístico, libertador e sua sinceramente na escrita é única.