Depois de experimentar com sonoridades mais ousadas em seu debut Radioactive, Kyonash retorna com MANIAC, um disco mais coeso, íntimo e sensual — que, embora nem sempre alcance seu máximo potencial conceitual, é forte o bastante para consolidar o artista como um nome interessante no pop alternativo. Dividido em duas metades conceituais — desejo e consequência —, o álbum funciona como um espelho quebrado onde cada faixa reflete um fragmento de impulsividade, prazer, culpa e, acima de tudo, autoimagem. A estética visual, assinada por ANNAGRAM e Tammy, é imediatamente provocadora: com referências à cultura digital, redes sociais e erotismo virtualizado, o projeto apresenta uma linguagem gráfica que complementa bem o universo caótico e hedonista que o álbum propõe. Nem sempre a estética escapa da obviedade, mas ainda assim é coerente com a proposta de Kyonash: ser transparente, mesmo quando isso significa ser incômodo. A abertura com “Carnal Desires” é eficaz: embora liricamente mais simples, a produção e a entrega vocal trazem força e identidade. O jogo entre fé e prazer é familiar no pop, mas Kyonash entrega com convicção, abrindo caminho para o que está por vir. “Disease”, que vem na sequência, é uma das melhores do disco — a metáfora entre desejo e vício é bem construída e a composição, aqui, acerta em camadas. “Brat Boy”, inspirado na estética brat de Charli XCX, é outro acerto: divertida, provocativa e com personalidade, mostra Kyonash se apropriando de sua imagem para subverter expectativas. Já “Up & Down”, dueto com Kaleb Woodbane, é sedutora e eficiente em sua proposta dançante — com uma batida envolvente e uma química bem construída entre os vocais. A letra é direta, mas não rasa, mantendo a leveza sem perder a intenção. A faixa-título, “Maniac”, é o ponto alto do álbum. Obsessiva e autoconsciente, brinca com a ideia de um amor platônico onde o eu lírico conhece todos os detalhes (e vícios) do outro — e, mesmo assim, o quer. A produção é magnética, e o texto, ainda que sutil, é inteligente o suficiente para carregar um conceito inteiro. No entanto, o álbum encontra alguns tropeços. “Fire Bomb” e “Call Me (Midnight)”, por exemplo, são faixas competentes, mas carecem de maior profundidade lírica ou de um ponto de vista mais original. Ainda assim, não chegam a comprometer a coesão do disco e servem como respiros no fluxo emocional proposto. “Body Electric” e “Don’t Cry For Me” entram na segunda metade do álbum e trazem um tom mais melancólico e confessional. Aqui, Kyonash fala sobre exaustão emocional, sobre não se comprometer, e sobre assumir seus próprios erros com um certo niilismo afetivo. São boas faixas, que talvez se beneficiariam de um tratamento um pouco mais ousado na produção, mas que cumprem bem seus papéis na narrativa do disco. O encerramento com “Heartbreaker” é agridoce e preciso. É o momento em que Kyonash admite seu papel na destruição de mais um romance, não como vilão, mas como alguém que simplesmente é incapaz de escapar de si mesmo. É uma faixa madura, bem escrita, que dá um fechamento digno à narrativa construída ao longo do álbum. Em suma, MANIAC é um segundo capítulo ousado e pessoal na carreira de Kyonash. É mais direto e polido do que seu antecessor, ainda que mantenha o experimentalismo como marca. Se algumas faixas poderiam ter arriscado mais liricamente, o conjunto é coeso, instigante e recheado de boas ideias. Kyonash mostra que está cada vez mais confortável em explorar suas contradições, e isso é um grande trunfo artístico.