De tempos em tempos, ocorre um fenômeno no jogo: uma obra-prima é lançada. Ao simplesmente abrir a página de “MISCONDUCT”, de Kaleb, percebemos que o disco junta-se ao hall de clássicos do Famous, ao lado de “Velvet Sky”, “The Playwright”, “Rainer Maria Rilke” e muitos outros. Normalmente nossas resenhas iniciam-se com análise de faixa-a-faixa, mas nesse caso especial, resolvemos voltar nossos olhos inicialmente ao espetáculo visual que nos é apresentado. O nível de qualidade gráfica, visual e criatividade no encarte de “MISCONDUCT” é algo invejável, pois simplesmente ultrapassa qualquer modelo que tínhamos anteriormente e considerávamos como supremo. Há uma nítida coesão, até mesmo entre a paleta de cor, que cria uma estética jamais vista dentro do jogo. O artista brinca com a óptica e ilusão no decorrer de todas páginas, apresenta seus featurings de maneira que eles não parecem intrusos no visual, mas sim partes essenciais dele. As imagens do artista em si são um visual à parte - sensuais e eróticas, muito bem articuladas com o que foi proposto e também com as letras das canções. O visual é algo novo, complexo e paradoxalmente uma homenagem à clássicos Pop, erguendo-se em seus ombros para alcançar a grandiosidade. “Eden N’ Hell” é a introdução ao mundo erótico de Kaleb, com fortes conotações sexuais que fogem do clichê e são muito inteligentes e bem construídas, com um instrumental apaixonante. “Anesthesia” dá sequência com sua estética sexual e sonoridade Dance contagiante, com versos curtos e eficientes que permitem a continuação do fluxo da dança sem problema algum. A terceira canção, “Telepathy”, em parceria com a cantora Jackie, é também fenomenal, com um visual de cair o queixo e composição à altura. “Space Cowgirl”, com Debra, atinge o ápice carnal encaminhado pela sua antecessora, com letras explícitas e ao mesmo tempo longe do vulgarismo, muito criativo e divertido. E se antes pensávamos que já havíamos visto de tudo, “Queen of the Ride” chega para nos provar errados ao narrar literalmente, ao que parece, um ato de sexo anal durante uma cavalgada… Acreditamos que se continuarmos a analisar a faixa, a crítica terá que ser censurada para maiores, então vamos nos conter aqui e dizer que a canção também é ótima. A faixa de nº6 é o lead single do projeto, “Bang Bang” - temos o pressentimento que o single narra uma ejaculação na face da pessoa amada do eu lírico, tendo em vista o refrão “Bang bang, I shot right in your face // That\'s what you get for misbehave”, e apesar disso, a música foge do clichê e segue com um jogo de palavras muito bem atenuado e construído, assim como suas antecessoras. Na faixa título, Kaleb realiza a opção de abordar trabalhos de outros artistas, o que apesar de ser uma atitude criativa, parece afetar na coesão lírica, oferecendo a impressão de que houve dificuldade de ‘conectar’ cada referência à outra, resultando em uma música que por si só poderia ter ido além caso focasse em seu próprio desenvolvimento temático ao invés de múltiplas intertextualidades. “Worship” brinca com as expectativas do leitor ao explorar a mitologia cristã, vide “I don\'t need to go to churches // Cause the bed is the place where I worship”, seguindo com versos curtos mas ao mesmo tempo divertidos e legais de serem lidos. Já em “How to Please”, temos a participação divertidíssima da rapper Remy C, que entrega versos brilhantes e que complementam Kaleb perfeitamente, servindo uma canção com alto potencial de single e ótima qualidade lírica ao servir como manual do sexo oral. Aproximando-se do fim, “BDSM” apresenta a rapper Teyana T, que também oferece uma composição fenomenal à “MISCONDUCT” e brinca, junto à Kaleb, com a tão famosa prática sexual BDSM, promovendo não só uma intertextualidade legal mas como também versos muito bem construídos e coesos. Na penúltima canção, “Ecstasy”, Kaleb subverte as expectativas ao abordar o relacionamento afetivo ao invés do carnal, como anteriormente, explicitando os sentimentos negativos do eu lírico direcionados à sua amante, o que aparenta ser, em certo nível, a dissolução do suposto amor entre ambos. Por fim, mas não menos importante, “Anticipate” é a culminação de “Ecstasy” e narra o fim do relacionamento em si, deixando explícito que sua vontade era exclusivamente a prática sexual (“From the start satisfaction was the only thing real // So now we leave, each to our own way”), e não o amor romântico em si, ou até mesmo uma relação pessoal, contando também com uma letra muito boa. Voltando-se agora para a parte criativa do disco, retomamos o que dizemos no início: o visual é inegavelmente criativo e muito bem articulado. A temática não deve ser confundida com clichê, pois apesar de sexo ser algo recorrente nos trabalhos em geral, a forma como Kaleb aborda é revigorante, apresentando outro nível de profundidade e inovando massivamente. A coesão também é evidente, sem nenhum erro que conseguíssemos detectar, já que todas as faixas conversam entre si e aparentam compor o mesmo corpo de trabalho, contínuo. Em geral, “MISCONDUCT” é um excelente álbum, sem dúvida um dos melhores dos últimos tempos e que vale a pena ser lido, não só por sua esfera divertida mas também por ser algo leve e legal, longe de ser maçante ou difícil de digerir. Sem dúvida um dos expoentes do Pop e Dance, o disco pode ser levado em conta como o novo parâmetro de qualidade. || Composição: 36/40 || Visual: 25/25 || Coesão: 20/20 || Criatividade: 14/15 || Nota: 36+25+20+14=95.