Uma artista versátil e sempre muito intensa em seus trabalhos, Ashford lança “Meltdown” (com estilizações em maiúsculo e minúsculo) como o seu terceiro álbum de estúdio após a era monumental e certamente caótica do “Walls” — seu maior disco em todos os âmbitos possíveis até então. “The Right (Intro)” é direta, e ambientaliza para o ouvinte tudo o que está por vir. É perceptível a forma como Ashford sabe fazer as coisas fluírem facilmente, e a familiaridade com a lírica que será usada é muito forte. “Golden” critica a ambição exacerbada da indústria e seus membros por um “prêmio dourado”, aqui usando da cor dourada para trazer algo mais destacável. A canção flui muito bem e é muito bem escrita, mas um hook poderia ser bem-vindo. “Blind Faked” é a canção mais comercial do projeto, e fala sobre o “cego fingido” — termo que Ashford caracteriza como “alguém que foi enganado por outro alguém”. A canção reverbera muito entre linhas mais poéticas e linhas mais diretas, o que enriquece sua narrativa e a torna muito interessante. “Wolverine” é ousada, afiada, perspicaz e necessária no disco. Narrando basicamente a fase da mania, Ashford reage e “mostra os dentes” diante todas as mentiras que ela viu de si mesma sendo colocadas pelos lugares. É como à continuação de “Blind Faked”, mas aqui ela não está mais cega. E isso é perigoso apenas para quem a machucou, e aliviador para quem a apoiou. “Killing Horses and Riding Their Corpses” é a melhor canção do disco; carrega angústia, revolta, euforia, autoimagem, autodepreciação e tudo possível com uma fidelidade e esperteza absurda, o que resulta em uma letra muito bem composta, com uma estruturação que segue os pontos devidos. É incrivelmente perfeita, diga-se de passagem. “Meltdown” é a peça principal do disco, e com certeza isso define muita coisa. A canção basicamente mostra um panorama de tudo que aconteceu com Ashford aos olhos do público, e aqui, junto a ZÍARA, ela consegue trazer o disco ao centro com intensidade. As duas conseguem harmonizar seus sentimentos muito bem, e no final isso traz uma faixa poderosa, que poderia ser considerada a mais impactuosa até aqui. “Wild Things In The Backyard” é intimista e mais experimental; ela basicamente se constrói pelas lembranças da vida de Ashford, meio que em um diálogo com algum familiar ou até com uma versão diferente de si mesma. É poderosa pois faz o ouvinte entender todas as suas indagações e aflições, e como o passado a fez criar hábitos e talvez alguns escudos que a acompanham. “Enemy” é mais um fragmento muito íntimo e bonito de ver. Por mais que tenha ainda aquela carga caótica e letras mais “sujas”, é intenso o sentimento que causa pela sinceridade de Ashford nas linhas, principalmente nos dois versos. É muito forte e muito intensa. “Houdini Hands”, carro-chefe do disco, é muito forte e muito emblemática no que se diz sobre a temática do disco. Ela aborda todas as maiores fases de vencer algo na indústria e a linha tênue entre ser adorado e ser extremamente odiado, e isso pela mesma pessoa… o que é algo narrado com muita fidelidade e força pela compositora. É uma canção marcante, e pode ser considerada um marco na carreira de Ashford. “No Symphony” de certa forma traz um ar pesado ao projeto. É uma excelente crítica aos mecanismos viciosos da indústria, e o interesse é que Ashford se posiciona mais uma vez sem medo de os criticar. É rica em detalhes e rica em um simbolismo em si, algo necessário em discos como esse. Seu visual, produzido por PENELOPE, traduz perfeitamente todos os sentimentos que Ashford ousou colocar em todas as suas letras. A fotografia é muito boa e muito demonstrativa, e a tipografia traduz muito das próprias expressões escritas. Em suma, “Meltdown” pode ser considerado o magnum opus de Ashford, principalmente após sua jornada e todos os pontos abertos e fechados no seu disco “Walls”. É um projeto cheio de identidade, intimidade, visceralidade e, principalmente, caos. E um caos poderoso, um caos que mostra que ela sabe o que deve fazer.