Ousada e determinada. Essa é a face do novo disco de estúdio de Dallas, City of Angels, que voltou surpreendente trazendo um material que transita entre seus estilos musicais, preservando o pop e o soul contemporâneo. Após três anos afastada das mídias, a veterana da indústria fonográfica mostra que ainda consegue facilmente alcançar novos patamares com composições audaciosas, segura de si mesma. E essa tranquilidade da artista está de forma evidente em qualquer faixa do disco; Dallas sabe o que está fazendo e coisa nenhuma pode detê-la.
Mas, quais seriam as provas? As ilustres "Crazy Girl", "X", "City of Angels" e "Fast in My Car" se sobressaem como composições de alto nível presentes em um disco que em algumas calçadas, Dallas acaba tropeçando. De forma bem sucinta e tentadora, a primeira parte, que eu delimitei de "Party Everyday" até "Only You", se mostra bem direta, vamos se dizer. E é bom reiteramos que o conceito de "farofa" não é necessariamente ruim, assim como faixas com conceitos mirabolantes não são magníficas, em uma expressão geral para esses termos. Mas, voltando ao início do disco, a primeira faixa fala sobre festejar todos os dias e que não há nada que vá impedir ela de curtir a noite como a última de todas. É uma boa abertura e mostra que aqui ela começará seu álbum, como nunca começou antes. "Crazy Girl" mostra o primeiro ponto alto de City of Angels, mostrando a artista de Oakland de forma destemida, colocando-a como um legado: eu sou a Dallas, eu estou curtindo em uma balada e você não pode me parar. “She's so crazzzzzzzy! Love her!!!” "Up at Night" é o pulo do gato nesse primeiro início de COA. Ela se destaca, já que não é uma faixa sobre festas e empoderamento. Descrito pela cantora como uma "libertação de uma relação fora de sua realidade", possa ser mais do que essa libertação e sim o sentimento de Dallas desse escape desse relacionamento, de maneira bem estruturada e poética. A quebra de expectativa volta novamente, entretanto, de modo inesperado e excitante: em "X", Dallas convida suas melhores amigas, Serina Fujikoso e Hannah Cantwell, para uma música atraente e totalmente sedutora, isso porque condiz com a descrição de Dallas sobre a faixa: "[...] As pessoas pensam e dizem que por ser mais velha e mãe, não posso falar sobre sexo. E eu posso sim e devo falar sobre o que eu me sentir à vontade. [...]". Ela somente não se sente em casa, como há a sensação de ter propriedade no que está compondo. São emoções despidas em composição. Pela primeira vez, há uma imersividade na concepção de City of Angels. Acredito que seja incomum declarar uma interlude como um forte de um disco, mas tenho certeza de que quando Dallas escreveu "Interlude: Angels" deveria estar ouvindo algum artista "master'' em inspiração. Expressiva e há muita sinceridade na escrita de Dallas; é catártica e libertadora. A artista deixa claro que a perspectiva do álbum é declarada pelo ouvinte, há muitas dualidades, então basta você interpretar as faixas como o ‘uso de substâncias’ ou ‘românticas’. E claro, ela não funciona para todas como "City of Angels”, faixa-título em participação de Bronx, que faz os artistas imergirem nas cidades dos anjos, com metáforas e versos modestos e singulares. Nesse meio, "3 am." possui um sentimento desalinhado com a composição da faixa, Dallas diz que há emoções confusas na faixa; talvez isso tenha interferido em sua escrita, o que tornou um tropeço dentro do disco. E não que ela seja ruim, ela somente não é o ponto alto do álbum. "Rumors" é uma resposta direta às opiniões de Dallas em seu tempo inativo, com trocadilhos inteligentes em sua escrita. Dallas sabe muito bem escolher seus featurings e não foi diferente em City of Angels, já que aqui temos "Bitch*s" e "Fast in My Car" com Teyana T e Marie Vaccari, e Naomi e Kadu, respectivamente. Aliás, senti falta dos versos arrojados de Teyana T em sua faixa. Ambas demonstram capacidades de serem grandes hits. "Get Away" finaliza o disco com uma breve mensagem de deixar a cidade dos anjos, mas de modo sagaz. Ainda que City of Angels, perca seu conceito em suas faixas, o projeto se mantém sólido e muito bem estruturado, e quando isso ocorre, pode ter certeza que Dallas retoma com muita capacidade. Com os nomes de TAMMY e Heccy assinados na produção do álbum, seu visual é surpreendentemente cativante, principalmente por sua capa, totalmente única e autêntica. As fotos e as cores escolhidas no encarte para as respectivas canções, se assemelham entre si, trazendo mais significado e compreensão para as faixas. É mais um fato para perceber que Dallas acertou em cheio nesses aspectos, trazendo nomes profissionais para contribuírem em seu projeto,
O álbum tem seus altos e baixos, como qualquer outro, isso é imprescindível, mas o que é bem previsível é de "Party Everyday" até "Get Away", houve uma rima aqui, Dallas encontrou seu espaço como artista e a missão é esbanjar seu talento de forma crucial e aproveitar, já que City of Angels é mais do que um simples álbum de uma cantora de Oakland.