Annagram faz sua estreia com seu álbum "AN ODYSSEY", obviamente inspirado no emblemático conjunto de poemas épicos de Homero. O álbum promete uma história dividida em três atos, então, prosseguiremos a avaliação de forma segmentada e depois, faremos a consideração do todo. Durante o primeiro ato, a cantora explora o lado erótico e amoroso, com "EROS TOUCH", "CUPID ARROW", "LOST IN ARCADIA" e "BIRTH OF VENUS", com ressalvas para a boa construção das duas primeiras e com decaídas em "BIRTH OF VENUS" "LOST IN ARCADIA", sendo elas os únicos defeitos deste momento do álbum. Destrinchando a faixa em questão, a cantora faz alusão a virgindade sagrada, ao casamento e a utopia. E honestamente, não dá para saber exatamente o que Annagram quer dizer com seus versos e comparando com a canção que a precede, sua posição na tracklist entra em questionamento. Em termos gerais, as letras são muito boas, a artista realmente surpreende nesse quesito em diversas canções com a robusta utilização de ferramentas metafóricas, mas em contrapartida há ausência de unicidade na organização das ideias. Para melhor compreensão, em alguns momentos, se o leitor e ouvinte não conhecer as histórias mitológicas não há como compreender o sentido da canção propriamente dito, isso dificulta a acessibilidade de seu conceito. Partindo para o segundo ato, começamos com "HYMENEUS HYMN", uma canção que aborda a traição em um relacionamento amoroso, casamento, eu acredito, devido a referência a divindade grega dos casamentos. Com essa mudança de narrativa, a última faixa do primeiro ato, "BIRTH OF VENUS", acaba soando desconexa na história. "ICARUS DREAM" é a continuação adequada para a primeira faixa, é agradável a forma qual a cantora lida com seus versos, sem exageros e ainda com conteúdo. "NEPTUNE" não é a melhor das canções até agora, mas podemos enxergar o papel dela no trabalho, mesmo que sua execução e ideia seja desnecessária mediante o contexto geral do álbum, já que ela só se faz presente para dar encargo a narrativa da faixa seguinte e nada além disso. "MEDUSA'S PAIN" se conecta com a última faixa da mesma forma que todas as outras se conectam entre si, dá-se a entender que "NEPTUNE" só está presente no álbum por causa do envolvimento do deus dos mares com a górgona, não porque essa faixa tinha uma intenção ampla frente ao projeto como um todo. Ainda citando essa faixa, "MEDUSA'S PAIN" consegue ser uma das melhores de todo disco, competindo fortemente com "HYMENEUS HYMN" e "ICARUS DREAM". Essas três canções exprimem com facilidade seus objetivos. Iniciando o terceiro e último ato, a artista introduz mais uma de suas interludes, "ARES BLESSING", exibindo outra reviravolta na narrativa, o que era de se esperar, o desfecho da jornada do herói de Annagram. O interlúdio e a faixa que vem em seguida, "NEMESIS REIGN" carregam o mesmo teor vingativo e raivoso, infelizmente, a compositora não soube expressar tão bem seus sentimentos de ódio e desgosto em nenhuma das duas. "CURSE OF SISYPHUS" é, na verdade, a salvação do ato final, é uma música inteligente e bastante interessante, principalmente a ligação que ela possui com a narrativa. Na mitologia, Sísifo foi condenado para todo o sempre a empurrar uma pedra até o topo de um monte, caindo a pedra da montanha sempre que o cume era atingido. "JUPITER'S LAP" além de ter um titulo que nos leva a pensar que no final da história a eu-lírico se conduziu a ter algum relacionamento com o deus rei do Monte Olimpo, a música soa como um hino gospel de cura e redenção. Talvez não fosse a intenção na hora de compor, ou talvez fosse, de qualquer forma, não foi a melhor decisão criativa, porém ainda um desfecho sensato e coerente. Como um todo, a obra cumpre seu papel e narrativa. Mesmo com seus pontos fracos, a lírica de Annagram é realmente homérica, porém precisa ser aplicada no contexto correto para que seus trabalhos atinjam um patamar de obra-prima.
Por fim, com esse disco podemos ter algo concreto: Annagram é uma das melhores compositoras dentre os novatos de sua geração, seus pontos fortes brilharam de maneira que seu talento pôde ser reconhecido, o que sentimos falta foi apenas de um direcionamento criativo e na execução de alguns momentos.