Depois de anos no mercado fonográfico fazendo a cabeça dos fãs alucinados por um projeto completo, a estrela Sakura Miyawaki lança seu primeiro EP, Age of Youth, que retrata uma jornada nostálgica, melancólica, agridoce e curta como a brisa do verão da juventude de uma garota, com a feminilidade presente em aspectos-chave e com uma estrutura muito concreta.
"The First Chapter", assim como numa boa estória, começa com uma introdução que nos leva a entender um pouco da atmosfera a qual devemos nos acostumar. Com uma suavidade carregada de sentimentalismo e intimidade, a idol traz a caixinha de música como fundamento para estruturar a primeira canção, a intro de seu mini-álbum.
"Insomnia", provavelmente a responsável por marcar de vez o nome de Sakura no mainstream, agora soa um pouco melhor quando pensada num conjunto. Há quatro anos atrás, quando foi lançada, provavelmente era uma epítome por abordar os temas que lhe trazem rumo de uma forma muito concisa. Hoje, fica um pouco aquém aos trabalhos mais recentes da artista. Porém, pensada no conjunto do EP, a canção, que leva o ouvinte a mais um pouco do subconsciente de Miyawaki, faz mais sentido e ainda se mantém fresh.
"Youthful", em parceria com Sana Dawn Thomas, apresenta muita harmonia entre as duas artistas, que discorrem sobre a juventude em versos melancólicos e nostálgicos que se voltam o tempo todo às lembranças para contar uma história que contém seu brilho mas a dor e o terror de se amadurecer e se tornar um adulto. É uma canção forte com versos bem escritos e polidos, com um refrão simples, que canaliza a emoção da canção, mas não toda a sua força.
"Skinny Love" é envolvente, um verdadeiro exemplar do pop chiclete que trata do mais corriqueiro tema que vemos como base das canções afora: amor, e este, em especial, um frágil, que marca bem o período da vida do eu lírico. Sem qualquer profundidade como o amor retratado na canção, a letra da quarta faixa cai nos hooks para afirmar um impacto baseado no que gruda. A sensação é de certo conforto no que tange a letra, que não usa de demais artifícios mais interessantes para distanciar sua composição das demais sobre o tópico.
Em "Little Twin Stars", parceria com Tomoyo, as artistas reafirmam o significado do termo doce da forma mais clara e sincera possível. Usando metáforas singulares ao retratarem a crueldade do mundo sendo exposta às mentes etéreas, frutos do subterfúgio da realidade, ambas reafirmam seus laços de irmandade em uma ótima composição e mostram um entrosamento muito sincero ao interpretarem a canção.
A penúltima canção, o grande hit "Bittersweet", é um exemplo do clássico hino realista sobre a indústria. Mesmo sob um assunto várias vezes retratado com maestria, o spin de Sakura sobre sua ótica é refrescante e honesto. A artista não tem medo de desafiar as pessoas com a verdade sobre ser quem é, e defende a lírica afiada que constitui o branding do single, que é o seu maior sucesso. Tem personalidade forte, como a própria diz na canção, e prova sem dificuldade.
Encerrando, "Hysterical Disaster" tem um papel fundamental não só por ser a última faixa, como mostra um amadurecimento dúbio: do eu lírico e de Sakura, a própria. Se tratando do seu último single lançado, é notável como a artista se mostra não só mais segura da posição que assume hoje como a frontwoman da música asiática, como também se joga na experimentação. A fase adulta se inicia com uma segurança maior em um amor próprio excessivo quando se dirige a um fã obcecado. O egocentrismo se torna viciante como açúcar, adoçando o paladar de muitos ouvintes, mas entristecendo por ser o fim do ciclo de Age of Youth.
Com um visual assinado por MOE e PRAYOR, o resultado final se converte no minimalismo que a artista carrega consigo em uma experiência colorida, jovial e completamente condizente com o que a mesma trabalha desde os primórdios de sua carreira. É lindo e agradável, sem qualquer exagero ou artificialidade poluente.
Sakura tem instintos ótimos ao produzir seu primeiro extended play, mas com sete faixas já presentes, seria um bônus e tanto transformar a jornada de sua juventude em um álbum com pelo menos nove ou dez canções. Para um público órfão de trabalhos com a força que este mini-disco propõe, é triste saber que acaba tão rápido e que o mercado da música não oferece maneiras tão instantâneas de se consumir um projeto, pelo menos não sobre o olhar da idol quanto ao ritmo de seus lançamentos. Mas para fim de conversa, com ou sem EP, Sakura já tem seu nome gravado no hall dos artistas mais icônicos e relevantes da indústria. Age of Youth é uma prova de seu talento, e se tudo correr bem, apenas um gostinho de sua grandiosidade.