Após anos de espera por um projeto de duração completa da artista, Baby, enfim, lançou seu primeiro álbum de estúdio. “Dorothy”, seu título, é inspirado na personagem homônima interpretada por Judy Garland em “O Mágico de Oz”, e por mais que tal influência acabe por não ser tão vista entre o conteúdo lírico do álbum que se segue, é um nome intrigante e que convida o ouvinte para a experiência de entender as dores, alegrias e esperanças da cantora dentro do universo que constrói ao lado de seus co-compositores. O projeto se inicia com a canção “My Eyes Are Always Sad”. Diferente de outras faixas introdutórias vistas em outros álbuns, esta não se encarrega de introduzir todo um universo; em vez disso, imerge nos sentimentos mais profundamente melancólicos da cantora, que co-escreveu com Sofia Grady sobre a sensação de que não consegue se mover para longe de onde a vida a colocou. É uma faixa interessante nesse sentido e já um dos destaques de todo o disco. “Carousel” segue a trajetória da tracklist; aqui, Baby se sente presa a si mesma, assim como na faixa anterior, mas expande a narrativa para apontar o que observa no mundo externo, aquele que ela não consegue acompanhar (“Sentada num cavalinho colorido / Assisto a vida passar lá fora / Enquanto existo confinada em meu mundo fantástico”). O tema se esvai um pouco na segunda faixa, mas Baby ainda mantém a história interessante ao ouvinte, algo essencial para o começo do álbum. “Sorry”, por sua vez, discute a relação pessoal de Baby com seu pai; o refrão e a ponte são seus momentos mais fortes, onde a cantora se despe de qualquer barreira e aponta para exatas emoções sobre a situação, enquanto os versos não chegam à altura do que a narrativa pede, sendo, assim, uma canção feita de momentos altos e baixos. “Slow Days”, faixa previamente lançada como single promocional, traz Baby e suas sensações de culpa pelas coisas ruins que acontecem não só a ela mesma como às pessoas que ela ama, e seus desejos de se isolar para que ninguém mais sofra como ela; apesar das boas intenções, sua lírica também não se mostra forte em um ritmo constante, tendo momentos impactantes e momentos que poderiam passar batido dentro de outras faixas. Em seguida, tem-se “Golden Feather”; abertamente descrita como uma canção sobre os sentimentos de Baby após não vencer um prêmio pelo seu maior hit single até então (que aparecerá mais tarde dentro do álbum “Dorothy”), mergulha em metáforas acerca de uma aparente queda de um posto onde a artista se colocou e a busca em se reerguer após perder o que achava que era certo para si mesma. Co-escrita com Alex Fleming, é uma faixa de pontaria dourada assim como seu título; sua refinada composição e produção musical elevam a faixa de um conceito meramente comum para algo único. “American Dream”, por sua vez, reúne Baby e Sofia Grady novamente na composição e é a faixa mais essencial do projeto até aqui: reunindo conceitos que envolvem o quanto a artista tenta se encaixar no “sonho americano” descrito e ironizado em sua letra, acaba representando a não-ironia de tudo o que a artista de fato já fez enquanto critica o sistema em que se insere, sendo um ótimo potencial para single futuro. “The Battle at Gardens Gate” é a faixa que prossegue o ritmo do álbum, mas liricamente, se desconecta do teor intimista que as canções anteriores apresentam; mirando em crítica social à falta de empatia da humanidade e se utilizando de referências religiosas, é uma música bem composta e produzida, mas não parece fluir tão bem dentro do álbum a ponto de transmitir a mesma verdade que outras faixas. “Mona Lisa Frankenstein”, single de maior sucesso da cantora até o presente momento, conta com a participação de Naomi, Jacob e Steve Bowie; nela, Baby se compara a uma pintura falsamente conhecida por sua beleza, mas que esconde seus horrores internamente. Ela e Bowie são os únicos da faixa a seguirem essa linha de pensamento, enquanto Naomi e Jacob passeiam por outras vertentes da discussão sobre imagem pública. Foi uma escolha acertada de single para iniciar a era do debut album de Baby, e continua sendo essencial dentro da história apresentada agora que o projeto está completo. Continuando na linha da faixa anterior, somos apresentados a “Circus Freak”, uma colaboração com a cantora Dallas; sua construção é direta ao ponto, mas nada rasa, trazendo as cantoras em uma reflexão sobre como elas são usadas de atração para que o mundo observe as duas, sendo uma faixa com potencial interessante de se trabalhar. Em seguida, “Clown”, apresentada como uma reflexão pessoal de Baby quanto ao modo como ela entretém seu público e se corrói por dentro, apresenta uma sinceridade vista apenas nas primeiras faixas do disco, retornando aqui com força total em um ponto alto dentro do projeto. “The Final Act”, um dos poucos momentos no álbum onde Baby compôs uma faixa inteira por conta própria, é também um dos momentos mais instigantes; apesar de chegar apenas na reta final da narrativa, entrega metáforas interessantes sobre o estado mental da artista após sua superexposição ao público nas faixas anteriores. Por fim, temos “Beautiful Ghosts”, que encerra a narrativa com um olhar mais introspectivo do que o já apresentado; aqui, Baby parece encontrar a sua real essência após buscar em tantos lugares e em tantas emoções, trazendo a sensação de encerramento que o álbum pede. Tendo sido lançada como single, prova-se uma escolha igualmente acertada, por se tratar de um dos pontos mais altos do CD. Visualmente, “Dorothy”, que contou com créditos de produção de ANNAGRAM, Tammy e GABRIEL, possui uma estrutura organizada e uma paleta de cores por vezes impecável, como no encarte, e por vezes capaz de confundir quem folheia o design, como no fundo extremamente claro para as partes textuais; a capa representa bem o conceito apresentado ao longo das faixas, sendo também um ponto positivo em análise. Por fim, Baby nos apresenta seu álbum de estreia com a promessa de ser o vislumbre mais pessoal que teremos dela; com uma quantidade de compositores impossível de não ser comentada, visuais instáveis e letras que variam de intensidade a todo momento, “Dorothy” passa a ambígua ideia de que a artista viveu tudo com a maior veracidade possível ao mesmo tempo em que ela pode ter apenas unido ideias que pareciam coesas dentro de si, mas cuja coerência não chegou ao resultado final.