Munido de uma vulnerabilidade emocional documentada como inédita na carreira, Noan Ray retorna, sem aviso prévio, à cena musical com “Chaos Angel”, seu quarto álbum de estúdio, desenvolvido logo após o lançamento de “Akira”, seu LP anterior, mas com mais segredos ao seu redor. O artista se propõe despir de suas máscaras emocionais para revelar todos os seus medos da forma mais crua que conseguia durante o processo criativo do álbum. As intenções se escancaram já na faixa introdutória, “Rebirth Creature”, onde o eu lírico anseia por mudanças em sua vida — algo que seria semelhante ao seu renascimento enquanto criatura habitante da Terra, por assim dizer. Entretanto, a ideia, que apesar de não ser mais inédita no entretenimento, ainda rende boas reviravoltas quando bem desenvolvidas, acaba caindo no seu próprio conceito aqui, por repetir sua necessidade apenas em metáforas que não variam ao longo da faixa. “Besieged City” segue uma narrativa mais clara, de rejeição mútua entre Noan e uma cidade que representa todos os hábitos dos quais ele quer se livrar a fim de recomeçar sua vida. A luta em rejeitar o novo em favor do que ele já conhece também é uma das dualidades que enriquecem a faixa, que recupera o timing perdido da intro. A title track prossegue a lista de faixas; aqui, Ray coloca a si mesmo na posição de um anjo caótico, ou seja, que enxerga o bom de sua vida, mas imediatamente trabalha de forma subconsciente para nunca alcançar o que realmente quer, dominado por seus medos interiores. A composição explora elementos já vistos em seu álbum “Akira” de forma mais crua, casando com a proposta do álbum. Em “¿Happiness”, o artista contrasta as expectativas para aceitar momentos felizes em sua vida com os seus questionamentos sobre o que, de fato, é felicidade para si, em uma reflexão interessante e cujo desenvolvimento se encontra no tamanho ideal para não se tornar exaustivo. Na interlude “Bad Phase”, Noan se imerge em doses de autocrítica, de cinismo e de esperanças quanto a todos os seus momentos de fragilidade e de possível mágoa atirada em pessoas próximas; o frágil estado de saúde mental é bem retratado em seus poucos versos sem rodeios. “Lethal” trata-se de uma colaboração com seu amigo de longa data, Alex Fleming; os dois compositores alertam seu ouvinte para que procurem outra companhia se o objetivo não é mergulhar em uma pessoa letal como os cantores. O alerta, escrito com boas intenções, beira, também, o repetitivo em alguns momentos, mas a sintonia entre os artistas é o que salva o conjunto geral. “Immoral Mortality” traz o lado mais sensível de Noan apresentado no álbum até aqui; com lembranças específicas de momentos que o fizeram questionar sua existência e anseios que perduraram por todo esse tempo até a sua atualidade, forma-se uma das faixas mais bem construídas do projeto. “Destroy ME, Please!”, assim como a tipografia de seu título, demonstra o desespero do eu lírico. Mantendo a sensibilidade da faixa anterior e expandindo-a para atos que vão além de palavras e demonstram a agonia emocional e física de seu autor em sair da situação em que se encontra, é o momento-chave para uma possível redenção em maturidade de Noan dentro da narrativa apresentada. “Opium” redireciona os momentos vulneráveis de Noan a um interesse romântico que parou de correspondê-lo após conseguir saciar as necessidades físicas e sexuais que buscava no eu lírico; sua ponte, a parte que mais funciona na faixa, é uma das mais cortantes do álbum e isolam todo o sentimento sem precisar exauri-lo de descrições. “Anti-Hero” traz um nível maior de claridade aos pensamentos de Ray, quase que como um diagnóstico feito em si mesmo quanto a todos os problemas que o assolaram durante o tempo passado, e é esse clarão de pensamentos que torna a faixa grandiosa. Liricamente, o álbum se encerra com “Is My Fault?”, que traz um encerramento mais obscuro do que o esperado após as faixas que se passaram. Noan coloca-se novamente em situação de culpabilização pelos acontecimentos em sua vida, mas se isentando parcialmente da possibilidade de tudo ter sido culpa de seus próprios medos, em uma abordagem interessante e que acaba por soar não superficial, mas como uma massagem no próprio ego em vez de sentimental. O pacote visual do projeto de “Chaos Angel”, mais uma vez assinado pelo próprio Noan Ray, é caótico como sua proposta pede, e seus tons de cinza e verde permeiam todo o encarte com uma coesão singular, ainda que sua capa oficial seja a finalização menos atraente em todo o visual. No fim, o que se tira da experiência do álbum é exatamente o que seu título expressa: trata-se de um caos, desorganizado em alguns momentos na busca pela sinceridade mais crua possível, mas elegante quando os sentimentos se acalmam e optam por refletir de forma mais quieta e fluida.