Um dos maiores nomes do cenário pop, Hurrance Evans, retorna com um álbum arriscado mas repleto de conceitos que se entrelaçam, uns aos outros, criando uma obra que faz jus a bravura da cantora. “The Playwright” começa simplesmente nos introduzindo a perspectiva de dramaturgia do eu-lírico da cantora. O conceito é magnificamente coeso e sólido, nada está ali por puro caso. Hurrance sabe bem de qual argumento está tratando, e faz transparecer isso como um mestre das artes ensinando seus discípulos, as normas da dramaturgia antiga e contemporânea. A divisão em atos do álbum, remetem às peças teatrais; uma escolha genial da cantora que dividiu detalhadamente cada faixa em cada local de fala. Começando pela parte lírica, o álbum nos apresenta nove faixas, sendo a faixa título do álbum, a primeira a abrir a obra. “The Playwright” é como um prelúdio latim, onde o criador da obra explicava um pouco mais, cada detalhe daquilo que futuramente o publico irá ver. A forma como Hurrance soube medir cada palavra com “conta-gotas” para que nada soasse demais para a compreensão de quem está lendo, é incrível. As rimas são auto postas, fazendo com que o complexo geral da faixa, seja um grandioso começo. Continuando com o single, “Broadway Avenue”, onde o eu-lírico da cantora nos vem apresentado de maneira discorsiva a tal ponto, da nos sentirmos mais próximos da nova realidade que a própria está vivenciando em sua própria pele; aquela de mudar completamente realidade, se transferindo para um novo país com novas oportunidades e possibilidades. Isso requer bastante estudos culturais e conhecimento que Hurrance tem pra dar e vender. “Spotlight”, menciona a ascensão de um dos maiores nomes artísticos dos anos 50, a grandiosa Julie Andrews; a qual inspirou o eu-lírico de Hurrance, para a composição da faixa, através de sua perspectiva de “o que é ser famoso” e como algumas pessoas chegaram a ter o tão merecido estrelato. “Persona”, faixa em parceria com a cantora Tessa Reimels, encerra o primeiro ato do álbum de uma maneira retumbante. Desconstruindo seu personagem e demonstrando mais humanidade, Hurrance e Tessa, expressam a verdadeira “face por trás da máscara fictícia” criada na base dos gostos da indústria. Com “Blue Blood”, começa o segundo ato do álbum. A faixa é meiga, repleta de amor verdadeiro; um amor que poucos amantes sentem de verdade um pelo outro. Um amor que não precisa de algo a mais como joias ou roupas caras porque “não é o sangue azul que flui nas veias” deles, então não precisam ser nobres, só deixar fluir a paixão mais pura que eles têm no coração, um pelo outro.
Referindo-se à cultura dos artistas do século 19, que amavam ser completamente afastados dos conceitos socioculturais e convencionais, o eu-lírico de Hurrance nos introduz “Bohemien”, uma incrível faixa sobre estar bem longe da sociedade, ao lado de sua cara-metade. Continuando com “Hello Neighbor!”, vemos assim um lado mais descontraído, melancólico e amável da mesma medalha, onde o eu-lírico da cantora repesca uma sua antiga paixão de infância. Passando tais sentimentos também para “Little Dreamers”, faixa conclusiva do segundo ato do álbum que se relaciona ao amor de dois amantes que desejam trilhar seus caminhos unidos; tudo isso através da pureza e a inocência das antecedentes faixas. E para concluir essa viagem lírica através da mais pura forma artística, temos “Avant-Garde (a New polis)”, faixa conclusiva do álbum que alude a visão tradicional grega das artes, onde priorizavam o “milagre metafísico” da música, sem o qual o mundo não teria alguma expressão sentimentalista. “Porque é através das artes que o caos do mundo tem uma valência simbólica” - Nietzsche. A parte visual do álbum é impecável. Um dos melhores já vistos por esse humilde crítico no Famous. É arte pura! A maneira em que Hurrance, ao lado do produtor Kaleb, conseguiu expressar todo o conteúdo lírico do álbum nas folhas do encarte, é genial. Tudo ali, remete o conceito do álbum e das faixas. A coesão da inteira obra soa perfeita em todos os aspectos. Hurrance, criou sim, um dos melhores álbuns já vistos no Famous. Não temos conselhos para a cantora, e torcemos muito para ver essa obra de arte visual e lírica nas próximas premiações.