Em seu mais novo álbum de estúdio, o rapper BRONX inicia a sua nova jornada de auto conhecimento através de músicas sobre suas experiências na indústria musical, que de certa forma, moldaram a sua personalidade. Seu conceito não é algo tão profundo, mas é apresentado como um projeto com canções que mostram seu desejo em progredir, ou ‘proceder’, e raciocinar sobre motivos e soluções. O conceito não é tão bem aplicado em algumas faixas; na verdade, algumas destoam um pouco da ideia do álbum como ‘Catfish’ e ‘Granja’, quebrando a coesão do álbum. Iniciando o álbum, Bronx começa com ‘Proceed’, o que na verdade deveria ser uma faixa de introdução, o que se entende em ser mais pequena e curte, apenas um ‘aperitivo’ do que vamos receber nas faixas seguintes, mas não funciona desse jeito, a música funciona mais como uma faixa completa; o que não é um defeito, é apenas uma observação. A faixa engloba acontecimentos de variados momentos, e bem encaixadas, o que deixa a composição rica em referências e mostra um pouco a agressividade de Bronx nos versos, considerando a composição como inteligente, funcionando como uma ótima faixa-título para o álbum. Já em ‘Legacy’, o artista perde um pouco a agressividade para entrar em um momento otimista, onde a faixa segue um padrão mais alegre e um pouco diferente do que estamos acostumados em músicas de hip-hop, a música é entusiasmada e auto astral, como uma mensagem positiva para os seus ouvintes. Chegando em ‘Mandrake’, um dos sucessos do último ano, podemos dizer que em comparação as anteriores é a música em que o Bronx cai no velho clichê, com versos não tão impressionantes assim, onde a música perde um pouco da essência das anteriores, já que aqui seu único intuito parece ser a grande e velha ostentação, que é algo que soa tão batido que acaba não sendo tão favorável. Digamos assim, é um dos destaques fracos do álbum. Em ‘Random Counsciouness’, Bronx entrega uma composição reflexiva que encaixa perfeitamente com o processo de progressão do seu álbum. Ganha pontos por ser mais complexa em seus versos do que as anteriores, e apresenta uma forte mensagem de evolução, o que pode ser a presença mais forte do conceito do álbum até então. Mas, devemos ressaltar que alguns versos em tradução soam um pouco confusos em junção as outras linhas, exemplo: ‘Seus ouvidos estão fechados.. contaminando o que sai de sua garganta’ ou ‘Sobre as escolhas que você faz.. Se a revolução está em nosso tempo... Terá fundações?’. ‘Wiser’ funciona como uma das melhores faixas do projeto. Soa como um processo de regeneração da alma de Bronx ao aceitar todas as suas falhas e aceitar como virtudes. A música junto com o seu instrumental é eletrizante, com versos bem colocados e boas rimas. São composições como ‘Wiser’ que demonstram o avanço de Bronx em relação ao seu álbum anterior, e como ele está pronto para seguir em frente. Em ‘Highway’, apesar de ser supostamente uma interlude, Bronx mostra uma boa composição na caixa, que mostra uma versão mais triste e melancólica do rapper, o que é de se esperar que as músicas seguintes sigam a mesma linha, já que uma interlude serve pra fazer uma divisão que te leve a algum lugar, mas não acontece aqui, já que ‘Catfish’ aparece antes de ‘Even If I Lost You’, fazendo quebrar um pouco da coesão do álbum e pecando por ‘Catfish’ praticamente poder ser engolida na tracklist para fazer uma coesão melhor. Em observação, interludes são interlúdios que são faixas de pouca duração de tempo, e aqui, Bronx novamente adicionou uma faixa com estrutura completa dentro do álbum. E como dito por Bronx que após ‘Highway’ seria visto uma versão mais ‘obscura’ da fama, aliás, pra isso que teria servido a interlude, ‘Catfish’ não mergulha nesse momento, muito pelo contrário, apenas se afasta um pouco da proposta que o álbum deveria seguir; entrando em um momento mais sexual e sem sentido nesse momento do álbum. Os versos não são tão agradáveis e soa como a faixa mais filler do projeto, sendo o momento mais baixo da composição do álbum, tanto como Naomi ou Bronx não acertaram na parceria. ‘Even If I Lost You’ chega com uma pegada mais sensível, mais sincera, e mais emocional, onde ambos artistas crescem na composição dos seus versos. O refrão soa como uma facada emocional, e os versos de Jackie carregam esse momento como uma continuação, sendo uma parceria que ambos acertaram. Em mais uma faixa em que a parceria parece funcionar, ‘Family Values’ segue na linha do álbum, onde mesmo parecer um momento mais de celebração, a faixa é bastante pessoal e importante para o artista, onde ele celebra os bons momentos apesar dos momentos ruins que a fama lhe trouxe. Pode-se dizer que todos os versos se encaixam como uma música só, e principalmente o de Victer Saint, que cai como uma luva. Apesar de que, em alguns momentos, os versos de Rawak parecem mais individualista do em uma música que deveria trabalhar em conjunto, já que ele fala bastante sobre si mesmo enquanto os outros dois falam sobre a amizade dos três, mas mesmo assim, gerou uma boa parceria no final. ‘Side Effects’ contém uma energia mais calma e tranquila, mas não possui a mesma intensidade nos versos do que as anteriores, pecando um pouco nesse quesito. Apesar de uma composição com um bom propósito e mensagem, acaba ficando mal posicionada na tracklist do álbum. Chegando em ‘Ganja’, é o ponto mais fraco do álbum ao lado de ‘Catfish’. A música não se conecta com nenhuma das anteriores, soando apenas como o desejo de Bronx em ficar chapado com os amigos e sem contexto nenhum, onde também não acrescenta no conceito do álbum. Próximo ao encerramento, ‘Palo Alto’ serve como uma boa faixa reflexiva, com uma composição mais pensada e intensa, com versos bem planejados para gerar uma boa composição, dizendo assim, sendo como um dos destaques positivos do álbum pela agressividade em certos versos e sutiliza em outros. ‘Spotlight’ chega como uma das melhores música do álbum, coesa com a proposta do álbum e mostra como Bronx está lidando com os momentos da fama. O verso de Kaleb cai como uma luva, sendo um grande destaque na composição, além dos versos de rap bem encaixados de Bronx. ‘Hands Clean’ encerra como uma faixa de encerramento coesa com a sua proposta, de forma intensa e verdadeira com a proposta do álbum. A parte visual do álbum não é tão conexa com a mensagem que Bronx quer passar, e não é ruim, mas não é melhor trabalho que poderia ser entregue na versão final, onde talvez umas finalizações em algumas partes poderiam ter causado uma experiência visual melhor, como por exemplo a última página do encarte que parece inacabada. Diante isso tudo, Bronx entregou um álbum que peca em alguns momentos, mas também tem grandes momentos no ‘Proceed’ que valem a pena a atenção do ouvinte, mas que seu problema maior nesse projeto foi a coesão do álbum, onde uma organizada melhor na tracklist poderia ter resolvido um pouco, fazendo com que sofresse menos nesse quesito, e também podendo ter descartado algumas faixas do mesmo para que não parecesse tão longo e cansativo. Uma dica é organizar melhor as parcerias do álbum, já que o rapper colocou várias seguidas, uma atrás da outra, fazendo com que uma acabasse ofuscado a outra e não lhe desse um momento para brilhar. No geral, o ‘Proceed’ é um álbum de rap que deve ganhar destaque em sua categoria, podendo ser um dos destaques do ano no seu nicho, mas que ainda possui alguns erros que podem ser facilmente concertados no seu próximo álbum. Composição: 27 / Visual: 19 / Criatividade: 16 / Coesão: 16