Após um enorme sucesso comercial e de crítica com “La Vie Boheme”, Aster Major retorna, de surpresa, com “AQUARIUS”. O álbum, que se difere em todos os aspectos do seu anterior, é uma obra que homenageia a cultura ballroom, a música dance e a comunidade LGBTQIAP+. Dividido em doze faixas, cada uma aborda temas como excelência, sensualidade, sexualidade e autoaceitação.
Começando com "STANLEY KUBRICK", uma curta abertura que é uma homenagem direta ao cenário Ballroom, ambiente de resistência criado pela comunidade LGBTQIAP+ em meados dos anos setenta. O disco segue na temática, com outras referências a cultura de bailes, como em “CLASSIC” e “LEGENDARY”. As três faixas compartilham de temáticas e referenciais semelhantes, as últimas soando mais como uma absorção do Ballroom para o interpessoal do artista. Fora isso, temos um trio divergente, em que um, STANLEY KUBRICK, se destaca pela excelente lírica e referências e outros dois caem em uma execução tediosa do que é descrito, com versos que carregam pouca desenvoltura e uma narrativa lírica que não soa tão apreciável quanto esperado ou mostrado na primeira canção.
“STUDIO 2069” traz a primeira dose de sensualidade ao disco, que será mais tarde mais bem trabalhada. Os versos do dueto com Alec Weaver são medianos quando não são fracos, como o segundo verso performado por Aster, em que as rimas simplesmente não funcionam e soam um pouco sem inspiração. A mudança de ritmo com “ORBIT” é apreciável, com a abordagem mais branda, porém a música decepciona na execução lírica, com letras bem mornas, que parecem muitas vezes redundantes. “WHEN I WAS YOUR MAN” em parceria com ZANE, se aprofunda na melancolia, prolongando a pausa da pista de dança e trazendo reminiscências de seu último disco. No geral, uma ótima canção, e consegue se sustentar através dos versos coesos. Outra colaboração, desta vez, Danny Wolf e LEE se juntam ao Aster em “GIRLS”, uma canção que trata sobre questões de sexualidade, mantendo-se apenas no escopo sexual do que a temática pode oferecer. É nítido, em alguns versos, que os artistas ficam ilhados em um material muito escasso, o que deixa a canção sem quaisquer sensos de autoridade, tornando-a insegura e disforme. “BODY IDEAL” carrega consigo um conceito bastante ousado e até mesmo diferente quando se trata de canções sobre sexo, o que é ótimo! Os versos são bons, Aster apenas se perde no refrão, que carece de musicalidade ou tato imaginativo. Além disso, o título não é harmonioso e, por mais que esteja correto gramaticalmente, soa como se não estivesse. “SEX, DRUGS & ROCK N’ ROLL” escancara um problema recorrente ao longo do disco: a ausência de rimas. Há poesia no refrão, fora isso, encontramos versos sem muita musicalidade. Surpreendentemente ou não, “AURA” traz rimas e temos uma mudança na atmosfera, abandonando o alto teor sexual que dominou as últimas três ou quatro canções. Chegando na reta final, temos a divertida e sagaz “SUGAR”, que possui um dos melhores versos apresentados no disco, me refiro ao primeiro, principalmente à segunda metade. "BOHEMIA DISCOTHEQUE", traz autorreferências bem aplicadas e um título que define bem a carreira de Major, dito isso, ela funciona como uma celebração de todo o disco. No geral, é uma canção bem executada, apesar de a segunda ponte ser um tanto brega e o refrão não tão apreciável quanto os outros versos.
Com o término do disco, surgem algumas questões. Qual seria a relação exata de Aster com o cenário Ballroom que é tão referenciado no começo do disco? Depois das três primeiras canções, o conceito fora totalmente esquecido e apenas voltou a ser brevemente mencionado em “BOHEMIA DISCOTHEQUE”, a última faixa. Ao final, parece que toda aquela menção e homenagem foram, de certa forma, em vão para a conclusão do conjunto todo.
No aspecto visual, é provavelmente o melhor já apresentado por Aster Major. As imagens, elementos e paleta de cores são muito bem escolhidas. Apesar de uma das fontes soar destoante de toda estética, não causa estranhamentos profundos a ponto de fazer-me odiar o trabalho. A capa é o ápice e o destaque de todo álbum, sem mais nem menos, a vontade é estampar essa figura em todos os cantos possíveis.
"AQUARIUS" perde oportunidades significativas ao longo do álbum, especialmente com relação à sua temática Ballroom, que chega a ser tratada como um tema central e depois é demasiadamente descartada. As lacunas criam falta de coesão, que pode deixar os ouvintes desconectados da narrativa geral, reduzindo o impacto do que está sendo dito ao longo. Ainda assim, o álbum apresenta momentos líricos marcantes e algumas abordagens conceituais únicas, além de uma produção visual divina. Em suma, "AQUARIUS" é uma obra que, apesar de alguns tropeços, demonstra maturidade de Aster Major como artista.
