A trilha sonora do filme “Challengers”, um dos maiores sucessos cinematográficos do último verão de 2024 (ano 12), chega com o propósito de reunir alguns dos artistas mais comentados do momento para eles mesmos comentarem, musicalmente e com suas próprias palavras, os acontecimentos do filme e as sensações dos personagens envolvidos. “Only We Know”, primeira faixa do disco e composição de Heccy, descreve a dicotomia entre “praticar apenas o que se conhece” dentro do universo dos protagonistas e almejar por voos mais altos do que o coração deseja. É uma entrada bem-vinda não só para a discografia da artista como também para os pontos de vista da história do filme. “Pressure”, adição de St. Maud para a trilha, se coloca nos pés da personagem Tashi, vivida por Zendaya, em uma posição de superioridade e de autoconfiança extremas. No modo como Maud expressa as emoções mais egoístas da narrativa, a faixa brilha nesse que é seu diferencial. “Gone (Patrick’s Tale)”, canção de Lucca Lordgan, visita os sentimentos do personagem de seu título quando se sente emocionalmente substituído por outra pessoa na vida de alguém que ele acreditava amar de forma profunda; a abordagem superficial, apesar de não comprometer a mensagem, deixa o ouvinte em um estado inerte quanto à importância da faixa dentro deste projeto. “Upon Our Sleeves”, de Petter, troca o estilo pop típico de seu autor por uma imersão na dance music e versos que discutem a urgência da descoberta de um relacionamento que não seria bem visto aos olhos de um público mais conservador, espelhando-se na relação entre os três protagonistas do filme; é uma canção que reinventa o conceito dentro do projeto e também o leque de criatividade de Petter. Já “A Little Life”, de Courtney, é um alt-pop que se coloca na pele do personagem Art na busca de uma perfeição própria motivada não por querer de fato ser o melhor nas áreas que precisa, mas sim para agradar a outra pessoa que exige dele tudo o que ela mesma gostaria de ser. É um dos destaques positivos do álbum no modo como Courtney se imerge nas emoções e deixa o ouvinte a par de todos os lados da situação. “Wendy”, de Maddie Taylor, revisita o tópico visto em “Gone (Patrick’s Tale)”, mas desta vez, no modo como o personagem Art se sente deixado para trás por Tashi, protagonista feminina que movimenta os dois homens da história, sob as lentes de um amor juvenil. A composição mergulha e se esbalda na proposta que faz a si mesma, sendo esse seu toque de destaque, com ênfase no refrão, fácil do público se identificar junto. “Don’t Give Up”, entrada de Serina Fujikoso para a trilha sonora, coloca o eu lírico na posição de alguém que entende seu poder sobre as emoções de outra pessoa e as usa para que seu interlocutor continue a melhorar em todos os seus aspectos profissionais, sob a promessa de um amor retribuído no final caso isso aconteça; trata-se de uma abordagem pouco pensada sobre o filme, mas que, sob os versos da cantora, faz mais sentido conforme o tempo da canção passa. “To Be Honest” representa a faixa de Allison para o disco; a letra culpa os pensamentos intrusivos pela vontade que a personagem tem de trair a confiança amorosa de seu parceiro, constituindo uma composição que se distancia mais da proposta do filme, mas que possui elementos interessantes de serem vistos numa ótica mais isolada. “Focus”, de Anne Ritchie, passa pela mesma situação de “To Be Honest”: canções que mergulham demais em um sentimento explorado de forma diferente na obra de inspiração, mas que funcionam melhor separadas dos projetos onde foram incluídas. Ritchie entrega seus vocais de forma misteriosa, sendo esse um adicional para sua faixa. “Roleplay”, canção de Alex Fleming, imerge-se na mente de Tashi enquanto desenvolve uma ideia de se envolver romanticamente com Art e Patrick ao mesmo tempo e as consequências públicas disso; por ser uma abordagem já vista anteriormente, ainda que de forma não proposital, a faixa de Fleming perde seu destaque, mas mantém um pouco de sua notoriedade em trechos mais experimentais após o segundo refrão, tornando-a uma adição curiosa na discografia do artista. Em um último aspecto de análise do CD, tem-se a produção visual, marcada por tons metálicos e justaposição de cenas e bastidores do filme “Challengers” que não desafiam as normas de um desenvolvimento imagético, mas que combinam com as propostas e perspectivas das faixas, salvo uma questão negativa quanto ao uso de textos “lorem ipsum” - parágrafos colocados temporariamente para que os textos definitivos sejam inseridos num futuro, mas que prejudicam a compreensão do ouvinte se permanecidos por um tempo mais estendido. Em suma, “Challengers: Original Motion Picture Soundtrack” é um projeto diferenciado no modo como reúne artistas dos escopos mais variados em busca de retratar o máximo de pontos da obra inspiradora; ainda que se perca nessa variedade limitada a partir da segunda metade de sua tracklist, resultado das colocações do ranking que originou sua organização, ainda é um lançamento que vale ser conferido para um conhecimento primário de todos os artistas escolhidos para cantar no filme.