“Out of This World”, enquanto primeiro LP da cantora quase homônima Outtathisworld — em uma referência prontamente situada e comentada no próprio encarte do projeto mais tarde como uma grande alegoria a “o espaço sempre ter sido Outta e Outta sempre ter sido o espaço” —, retrata uma jornada de exploração externa e retorno às raízes para o eu lírico desenvolvido aqui pela artista. Tal experiência se inicia visualmente, com uma produção de grande esmero feita pela própria cantora e que possui inúmeras menções e alusões visuais a filmes situados no espaço sideral; Outta brinca com todas as perspectivas possíveis nesse quesito e serve um visual cheio para os olhos de seu público. A experiência sonora, por sua vez, se inicia com a faixa “Savage Atmosphere”, que explora os anseios da protagonista em vivenciar novos momentos e novas perspectivas dentro de seu universo utilizando-se de um cenário sedutor envolvendo seu ouvinte. A temática exige desenvoltura para não deixar o conteúdo monótono, e a cantora faz isso muito bem, mantendo a atenção do começo ao fim. “RPG”, faixa número 2 do álbum, se propõe um caráter mais leve e divertido enquanto também comenta seriamente sobre como a autora se disfarça em personagens de roleplay para ter outras vivências e entender os limites de sua criatividade e de sua vontade de escapar do que a assombra em momentos do passado. É uma das composições de maior destaque no CD, pois além de ser, de fato, divertida, também é reveladora em modos que a faixa anterior não aparentou ser. Em seguida, temos a faixa-título e lead single da era, demonstra um estilo de escrita mais longo de Outta, contando sobre suas impressões mais instantâneas e, depois, as mais definitivas, sobre sua estadia num espaço metafórico onde ela se sente mais deslocada do que incluída. Trata-se de uma letra mais complexa, mas não menos compreensível por tal. “Joyride (The Monsters)” é inventiva no modo como ilustra batalhas internas da artista com seus próprios medos colocando-os em personificações de monstros vivos que a levam a lugares diferentes do que ela está acostumada; é uma faixa que adiciona muito à narrativa e à psique da cantora conforme vista pelo ouvinte. “The Fugitive”, 6ª faixa do álbum, é uma colaboração com o cantor e compositor PRAYØR; a justaposição entre os versos dos artistas é uma ótima adição à atmosfera da canção, com Outta lamentando seu aparente cansaço de correr de suas responsabilidades e PRAYØR servindo como um fiel conselheiro que conduz os passos da protagonista. Em “Identity Seeker”, Outta inicia uma “virada de chave” em sua narrativa de busca iniciada no álbum; aqui, seu liricismo é estelar nos versos, ainda que se esvazie um pouco durante seu refrão, que parece perder fôlego dentro do caráter confessional e empoderador da faixa. “Antidote”, lançada anteriormente como o terceiro single da era, justifica sua escolha como música de divulgação por seu conteúdo mais universalmente interpretado e por um refrão pegajoso que se mantém na cabeça do ouvinte enquanto pensa sobre os versos, que detalham um conflito entre querer ou não se distanciar de um elemento perigoso para sua vida. “In Rogue” traz um sentimentalismo quanto a uma pessoa que aborda sua vida com a proposta de torná-la mais leve, e Outta consegue empregar bem a sensação de alívio em um romance durante seus versos, ainda que demonstre saber que tal história não terá como durar muito. “Kenopsia” segue a tracklist; lançada como o quarto single do disco, é uma das letras mais cativantes não só do álbum como também da carreira da artista, pelo modo como coloca em palavras a sensação de se estar deixando memórias de um lugar e de uma vida no passado porque não cabem mais em seu presente. “Entropy” possui uma estrutura diferente das demais em sua construção lírica, enquanto discorre sobre os sonhos e esperanças da cantora rumo a uma nova experiência de vida que ela possa ser madura o suficiente para saber lidar com ela. “Kilonova” se enche de referências espaciais para expandir a narrativa de novos tempos na vida do eu lírico, e tal complexidade se baseia, também, na entrega e no carisma de sua intérprete para se sair bem com o ouvinte. “End of Time” contrasta com a faixa anterior no modo como, apesar de também aparentar uma esperança já ambientada no set mais recente de músicas, também soa como uma odisseia de dúvidas, como se Outta se sentisse pronta para caminhar em uma névoa desconhecida por ela — quando toda névoa traz uma aura desconhecida por si só a ser explorada, ou não. “Out of This World”, em suma, trata-se de um álbum extremamente competente no que se propõe, sendo pessoal ao mesmo tempo que é sideral, e sendo universal ao mesmo tempo em que é específico, formando qualidades para um projeto que tem o potencial de perdurar pelo tempo que for.