“How the Story Ends”, o aguardado primeiro álbum de estúdio da cantora, compositora e produtora Anne Ritchie, traz uma perspectiva pessoal da artista quanto a todas as fases de um relacionamento que a trouxe bons momentos e também outros indesejados e que a magoaram emocionalmente. Em faixas como “HTSE”, que dá nome ao álbum e também é a primeira da tracklist, a cantora demonstra estar confiante no potencial de seu novo romance, pronta para os “testes” que a vida irá impor à sua frente dali em diante para provar o poder do sentimento retratado, em um conceito interessante e bem demonstrado em suas linhas finitas. “Looking for Angels”, faixa nº 2, compara a chegada de um novo amor à vida de Anne a uma presença angelical em sua vida, o que a faz se sentir invencível no sentimento encontrado de forma gentil e que emociona o ouvinte pela delicadeza dos versos e a confiança do refrão. “Purposes” traz uma perspectiva mais singular no modo como a cantora não entende a dimensão dos próprios sentimentos que possui pela pessoa amada e tem o anseio de colocar tudo para fora, mas não sabe como expressar suas intenções. É uma temática direta e uma abordagem simples, mas que funciona pelo casamento da ternura com a produção musical ao fundo. “New Moon”, lançada antes como um single de prévia da era, retoma os sentimentos inocentes de “Looking for Angels”, porém, com um foco maior em destacar uma narrativa do que em priorizar os sentimentos, e é essa mudança de ponto de vista que favorece a faixa dentro do projeto. “Degrees Rising”, interlúdio entre as fases narrativas do álbum, coloca Anne em uma posição de poder dentro de um jogo de sedução, introduzindo temas mais maduros em pouco tempo, podendo ter sido estendida para melhor explicitar suas intenções. “Belong to the World” é uma faixa de sedução e empoderamento próprio, onde a autora incorpora os elementos introduzidos na interlude anterior de forma mais completa e traz uma interessante mudança no ritmo do projeto. “Fetish”, por sua vez, explora o lado mais sensual da artista em um momento a sós com seu parceiro, onde ela está disposta a satisfazer os desejos que ambos tiverem ali, sendo uma faixa simples, mas que funciona sem enjoar. “Turbulent Moments” traz mais uma mudança de ritmo à narrativa, sendo uma interlude pequena que introduz momentos de dúvidas internas da artista dentro do relacionamento vivido, e cuja história já pula direto a um término em “New Love”, na qual Anne sabe que não superou ainda o fim de um relacionamento com o qual ela contava bastante, mas que deseja ao seu antigo amor que ele encontre uma nova pessoa para esquecê-la assim como ela quer fazer. É uma das faixas mais interessantes no álbum justamente pela sua perspectiva mais particular do amor. “Time” mostra um eu lírico cansado e vulnerável, pedindo tempo para processar os últimos acontecimentos sem machucar mais ninguém na história contada, sendo uma expansão bem-vinda do que foi dito em “New Love” e mostra a maturidade da cantora em seu conteúdo lírico. “Grudge” possui uma linha estrutural mais incluída no gênero que Ritchie representa, o R&B, enquanto apresenta uma das estruturas líricas mais complexas do álbum no modo como usa de várias metáforas para representar o rancor e a agonia de deixar um amor para trás quando ainda sentia grande potencial no que seria vivido. “Pain”, mais um interlúdio musical do CD, traz mais uma vontade da artista em mudar o que sente, querendo deixar de vez para trás a dor do amor perdido. “Straight Up” é uma das letras mais leves do disco; aqui, Anne apresenta uma nova realidade onde seus objetivos pessoais tomam conta de sua visão a ponto de seu relacionamento anterior mal ser mencionado, em uma demonstração ainda maior de maturidade musical. A penúltima faixa, “Walking on Thorns”, explicita o desejo da autora de não ser mais relacionada ao seu antigo amor, por sentir que caminhava entre espinhos para fazê-lo feliz. A postura mais autoritária da cantora é uma adição interessante, ainda que comece a perder força a partir do segundo verso após a situação já ter sido exposta. Em “Bouquet of Flowers”, Anne, enfim, se sente limpa dos sentimentos devastadores que vinham a atormentando em várias das faixas do álbum como um todo, e é visível sua vulnerabilidade em uma das letras mais reflexivas aqui encontradas, sendo um ponto forte de seu estilo lírico num geral, também. A produção visual do álbum, assinada pela própria Ritchie em parceria com GABRIEL, funciona pelo modo lúdico como inclui as figuras da artista em imagens que misturam o animado e o real, o fictício e o cru; apesar das figuras desenhadas pouco estarem presentes no conteúdo lírico do CD, ainda são uma presença interessante de se ver pela forma como foram abordadas no encarte. “How the Story Ends” chega sem grandes expectativas, mas mostra a seriedade com a qual Anne Ritchie conduz sua carreira e prova seu potencial como uma artista maior do que vem sendo logo em seu primeiro álbum.