Após o aclamado e premiado Desguise, Petter retorna com TOUCHÉ, seu segundo álbum de estúdio. Com onze faixas e colaborações de Tammy, Annagram e Hurrance Evans, o projeto representa uma guinada sonora significativa na carreira do artista. Aqui, ele se afasta das estruturas tradicionais do pop para mergulhar em uma sonoridade mais rica, que mescla elementos do rock alternativo, da música eletrônica e de arranjos acústicos, com destaque para guitarras, violões, bateria e sintetizadores. A proposta de TOUCHÉ é clara. O álbum é uma jornada de autoconhecimento e transformação, onde a juventude se revela através de memórias, erros e aprendizados. A faixa de abertura, que carrega o nome do disco, funciona como uma ponte entre o passado e o presente do artista, revisitando elementos líricos de Desguise, mas agora sob uma perspectiva mais madura e refinada. Na sequência, Compére assume o papel de desabafo melancólico. A canção narra os últimos respiros de um relacionamento fadado ao fracasso, onde a insistência em permanecer não encontra mais reciprocidade. É um lamento sobre a percepção tardia de que, às vezes, insistir é apenas prolongar o inevitável. 6'4 surge como uma das faixas mais instigantes do álbum. Inspirada em um tweet, a composição aborda, de forma irônica e mordaz, a ideia absurda de ser um obstáculo na vida do novo parceiro de um ex. É uma resposta inteligente, direta e afiada, que transforma dor em arte, sem perder a simplicidade e a precisão lírica que já se tornaram marcas registradas de Petter. Em Grubby-Game, a colaboração com Tammy resulta em uma faixa energética, soturna e reveladora. A química entre os dois é palpável, e a construção eletrônica do instrumental potencializa ainda mais a tensão que percorre a narrativa. Chimerical mergulha em uma reflexão sobre os dilemas entre se entregar ou se proteger. A dúvida sobre repetir padrões do passado ou abrir espaço para algo novo guia uma letra carregada de metáforas, sensível e, ao mesmo tempo, densa. Pattern se destaca por sua clareza conceitual. Aqui, Petter reflete sobre estar preso aos próprios ciclos e às normas que ele mesmo criou. É uma canção que, embora trate de um tema recorrente no universo alternativo, ganha frescor pela sensibilidade poética e pela leveza com que conduz uma discussão pesada. Em Nemesis, o tom se torna ainda mais introspectivo. Petter assume o papel de observador da própria vida, encarando as consequências de suas escolhas e mergulhando em temas como ansiedade e autossabotagem. É, sem dúvidas, uma das faixas mais potentes emocionalmente, onde o artista reconhece ser, muitas vezes, o próprio vilão da sua história. Counterfeit Conman traz Hurrance Evans para uma colaboração que equilibra vulnerabilidade e força. A faixa discute os rastros deixados por presenças marcantes e tudo o que poderia ter sido. A participação de Hurrance é precisa, somando sutileza e profundidade ao conceito do álbum. O ápice da vulnerabilidade aparece em Whistle Blowers, a faixa mais crua e emocional de todo o projeto. Distante, tanto estrutural quanto liricamente, do restante do álbum, ela se destaca como um grito silencioso, uma carta aberta de quem, enfim, abraça sua própria fragilidade. É, sem qualquer exagero, uma das melhores composições da carreira de Petter e uma das joias de TOUCHÉ, ao lado de Nemesis e Pattern. A agressiva e catártica Hoes Before Bros, parceria com Annagram, reflete sobre as consequências de insistências mal direcionadas e os aprendizados que nascem da dor. É uma faixa direta, sem rodeios, que sintetiza bem o conceito de amadurecimento que atravessa o disco. Encerrando a obra, Jolie (Laide) surge como um epílogo sensível e melancólico. Apesar de mais contida e convencional em sua construção, ela cumpre bem o papel de fechar a narrativa, funcionando como uma última reflexão sobre tudo que foi vivido e sentido ao longo da jornada. Visualmente, TOUCHÉ acompanha o mesmo cuidado estético de sua sonoridade. O disco se apoia em uma identidade visual retro, elegante e distintiva, que reflete com exatidão o universo criado por Petter. Cada detalhe, desde a arte até a escolha das paletas e dos figurinos, dialoga diretamente com a proposta sonora, consolidando um trabalho esteticamente coeso e sofisticado. Em resumo, TOUCHÉ é, sem margem para dúvidas, o melhor e mais maduro projeto da carreira de Petter até aqui. Um álbum que não se prende a fórmulas, que emociona, provoca e se conecta com quem ouve de forma honesta. Suas metáforas elevam a obra a um patamar de constante evolução e reafirmam Petter como um dos nomes mais interessantes da cena atual.