“Exodus”, estilizado EXODUS, é o álbum debut do artista Jaehyuk, há certo tempo na indústria e que finalmente apresenta seu primeiro trabalho completo. O projeto abre com “Resonance: Into The New World”, um manifesto satânico muito bem idealizado e escrito. Os versos são muito sagazes e inteligentes, conversam entre si e contribuem para a formação de uma imagem maior. As metáforas e recursos poéticos também são muito bem usados, mas faltou a síntese em algumas passagens, que aparentam ser prolixas, isso é, demasiadamente longas e com texto ‘extra’, o que acaba quebrando a dinamicidade e musicalidade da faixa em alguns pontos - ainda se frisa que isso não é um problema grave aqui, com a faixa continuando a ser excelente. Em seguida temos “What Should I Do?”, uma faca de dois gumes no melhor sentido possível ao conseguir explorar duas temáticas - não só o personagem Lúcifer mas também o lugar de Jaehyuk na indústria. Esse entendimento dúbio contribui para a fomentação da faixa e a torna muitíssimo inteligente e bem idealizada. Entretanto, novamente aparecem algumas passagens prolixas, mais precisamente nos últimos versos. E também, em alguns pontos, a fusão entre Lúcifer e Jaehyuk poderia ser melhor polida, como em “Da narrativa de um garoto que vendia seu pasto, para ter suas coisas // E hoje o próprio assina o seu nome, na sua própria gravadora // A ambição sobe na cabeça, e a pobreza deixa de ser uma escolha (como se fosse escolha)”, que acaba anulando parcialmente a ilusão de que Lúcifer é o personagem central. A terceira canção do disco, “Eyes of Beholder”, é muito boa também, mas sua mensagem principal teve dificuldades em ser expressa claramente na letra. Há novamente uma construção lírica e mitológica muito bacana e inerente ao trabalho. Um dos singles do CD, “Sicko Mode” é a quarta faixa. A temática e abordagem é muito similar às anteriores, mas apesar dessa monotonia criativa, a faixa é muito bem escrita. As metáforas com o reino animal e a selva foram muito bem construídas na canção, enriquecendo-a ainda mais. Chegando na metade do disco, “Easy Goes, Easy Comes” é uma faixa com uma temática estranha, para dizer pouco. O personagem de Lúcifer adquire uma nova roupagem, sendo lido como um motor do empresariado. A ideia é interessante, mas a forma como a faixa é escrita não é das melhores. Talvez a melhor opção teria sido analisar o capitalismo em si do ponto de vista de Satã e demonizar o sistema ao invés de criar um personagem empresário em meio a versos pouco expressivos e com ‘encheção de linguiça’, pelo o que se parece. Há boas referências à mitologia cristã que funcionam muito bem, mas o conteúdo central em si não apetece. O refrão, por exemplo, não é marcante ou divertido, e a referência de Matheus ali poderia estar melhor contextualizada para não parecer uma intertextualidade aleatória que justifica a temática central. “Nocturnal Prowler” retoma a qualidade das outras faixas ao dar mais profundidade à Lúcifer, explorando a visão do personagem acerca da humanidade e seus costumes nefastos, com versos bem construídos e conectados entre si. Entretanto, novamente os versos são extensamente longos e sem nenhuma musicalidade ou ritmo inerentes à sua estrutura. A sétima faixa, “Pagan Fears”, mostra-se a mais diferente, tematicamente falando, até o momento. Deixando de abordar o lado clichê de Lúcifer, aqui Jaehyuk analisa a religião em si e como ela era cultuada no passado, com versos menores, dinâmicos, coesos e legais de se ler. Há, portanto, uma sequência à qualidade da faixa anterior ao mesmo tempo em que explora novas pautas, sem dúvidas uma vitória para EXODUS. Em “Hidden Place”, o artista age muito bem ao explorar o mito de Adão e Eva, oferecendo uma nova roupagem ao conto com versos super interessantes e bem construídos, fazendo justiça ao nível (fictício e) divino da narrativa. As referências são muito bem colocadas e contextualizadas, oferecendo ao trabalho uma camada maior de desenvolvimento. As duas últimas canções, “Master of Puppets” e “Hell Isn’t a Bad Place to Be”, representam a revolta de Lúcifer com Deus e a ida do personagem ao inferno, respectivamente. Enquanto a primeira tem um bom desenvolvimento e proposta, a última se destaca por ser mais dinâmica, engraçada e sagaz de se ler, misturando melhor elementos contemporâneos com mitologia. Voltando-se agora para o visual, se determina que ele é simples, mas belo e muito bem diagramado. A cor vermelha também realiza uma referência louvável à Satã, ampliando a intertextualidade do álbum. Entretanto, talvez fosse legal que algumas ilustrações que remetessem à mitologia cristã fossem inseridas, para dar uns toques especiais e mais épico ao disco - e ainda frisamos que isso não é um “defeito” do trabalho, apenas uma recomendação sobre como achamos que ele poderia ser melhor do que já é. A coesão é louvável, sendo uma normativa no encarte, na temática, abordagem e lirismo - quanto a esse quesito, não conseguimos encontrar nenhuma falha do artista, parabéns! A criatividade poderia ter sido melhor usada na composição das músicas, pois muitas parecem ser a mesma canção, mas com títulos diferentes. As faixas que destacam-se são as que mergulham na mitologia cristã de forma contextualizada e apesar de realizarem referências constantes à Lúcifer, não apoiam-se exclusivamente em seus clichês. Por fim, determinamos que EXODUS é um álbum muitíssimo bom somente com alguns problemas pontuais. Com uma obra dessa magnitude, esperamos que Jaehyuk conquiste o reconhecimento que tanto merece nos mais variados campos. || Composição: 32/40 || Criatividade: 11/15 || Coesão: 20/20 || Visual: 20/25 || Nota=32+11+20+20=83.